domingo, 14 de agosto de 2011

Tradução - Entrevista para a Out Magazine

Olá, toriphiles! Estamos publicando a tradução da entrevista que Tori deu à revista Out Magazine, falando sobre sua família, a tensão que hoje permeia o mundo e, naturalmente, o Night of Hunters e sua tour. É um material bastante extenso, e além de mais alguns detalhes sobre o conceito por trás do novo álbum, Tori dá a chance aos fãs de sugerirem canções para as futuras apresentações! Divirtam-se!

Catching up with Tori Amos (Por NOAH MICHELSON)

A cantora e compositora conversa sobre seu novo álbum, o porquê de se manter fora da internet, como sua filha de 10 anos a apresentou a The real housewives of New York, e pede sua ajuda para escolher as canções da próxima tour.

QUINTA, 11 DE AGOSTO DE 2011

Tori Amos tem sido chamada de muitas coisas diferentes ao longo dos últimos 20 anos - prodígio do piano, rainha dos malucos, sobrevivente, mãe, líder de um culto - mas não existe uma palavra a qual ela sempre manteve afastada de sua imagem: previsível. Não existe um gênero sequer no qual ela não tenha pisado - de música eletrônica, passando por big bands até o rap - e para Night of Hunters, seus 12º álbum, e o primeiro com o selo de música clássica Deustche Grammophon, a cantora e compositora escreveu um ciclo de canções do século 21, inspirado por peças clássicas que permeiam os últimos 400 anos, recrutando uma orquestra de câmara - e sua filha de 10 anos, Tash, para a gravação.

Amos recentemente nos ligou de sua casa na Flórida para falar sobre seu novo álbum, porque ela não acessa internet, e sua filha a apresentado a The Real Housewives of New York. Ela também pede sua ajuda na escolha das canções da próxima tour.

Out: para mim, a primeira metade de seu catálogo é feito de álbuns repletos de canções bem pessoais e autobiográficas. A segunda metade parece ser mais voltada para narrativas e personagens. Night of Hunters parece bagunçar essa linha. Aonde estava sua cabeça enquanto o escrevia, e quanto de você está presente no enredo?

Tori Amos: nos conhecemos há tanto tempo, então temos um punhado de conversas. Você me pergunta coisas que outras pessoas não perguntariam, e eu lhe respondo aquilo que provavelmente não diria a outros. Invés disso, começaria conversas sobre sapatos ou vinho, justo porque as coisas são pessoais no álbum, de modo a algumas das canções serem íntimas demais. Às vezes, também, elas são inspiradas por outras pessoas e situações pelas quais elas estão passando. Acho que as coisas tem mudado tão rápido na vida de tanta gente, que senti a vontade de recuar um pouco, pensando ser a hora de investigar como um relacionamento se despedaçando não necessariamente está a caminho de morrer. Pode significar somente que ele está diante de uma encruzilhada. Passei a ver que muita gente vinha se traumatizando pelo que estava ocorrido no mundo, e por conta disso - seja pela perda do emprego ou por ver um familiar saindo dos trilhos ou por uma morte - pude entender que esses traumas vinham criando tensões nos relacionamentos; então, estamos diante de tempos difíceis. Não consigo me recordar de uma época tão dura como essa antes.

Tome apenas a última semana, com motins em Londres e os estoques de mercado…

Tudo está louco agora, e as vidas estão mudando de um dia para o outro. E o que aconteceu em Oslo? Estive em Oslo tantas vezes e jamais poderia pensar que tamanha carnificina aconteceria naquela cidade. Se você me pedisse uma lista de 100 cidades (onde isso poderia acontecer), Oslo não estaria nela. Está difícil prever onde a próxima tragédia vai acontecer, mas há outro lado para quando essas coisas ocorrem - é um lugar onde você olha para sua vida, e reflete sobre como você quer mudar e quais mudanças você quer empreender, se ainda está vivo. Se você tem outro dia, faria amanhã as coisas do mesmo jeito que fez hoje? Então eu decidi, quando Deustche Grammophon convidou-me a escrever um ciclo de canções do século XXI, o nó seria criar canções baseadas em temas clássicos. Olhei para a doutora em musicologia e pensei, "isso não é uma tarefa fácil". E ela disse, "sei que você tem trabalhado num musical, então você seria capaz de criar uma narrativa para este projeto". Respondi, "sim, acredito que eu possa, mas o problema está em estragar os mestres! Isso sim é desconcertaste". Então decidi trazer isso para um lugar familiar, um lugar que tenha mitologia, pois bons ciclos de canções têm neles um quê de sobrenatural neles, por isso funciona. Para mim, se não houvesse um subtexto poético o transpassando, e os personagens não adentrassem nele para nos levar a uma busca espiritual, então não acho que vá durar 50 ou 100 anos. Precisa transcender o tempo, de certa forma, também refletindo o momento em que nos encontramos.

E se trata de uma extensão natural do que você vem fazendo em sua carreira com mitologia. Como exemplo, temos o Boys for Pele.

De alguma maneira, trabalho com o mito desde o início. Isso me excita. É potente e está dentro de todos nós. As pessoas podem não entender quais os tipos de arquétipos estão se mostrando através delas por não terem se aberto a isso, mas temos diferentes combinações arquetípicas dentro de nós.

Todos os fóruns estão enlouquecendo porque, apesar de não terem ouvido o álbum ainda, leram sua explicação faixa a faixa, e surgiram muitas especulações sobre o álbum ser alimentado por sua vida pessoal - especialmente questões sobre como anda seu casamento. Você acredita que isso seja injusto?

Não posso controlar isso. Eu sei bem o que acontece. Tudo bem. Quando ouvirem, porém, eles terão condição de entender melhor o contexto do material. Porque o amor que esta mulher tem por este homem é muito profundo. Cada pessoa precisa decidir em sua mente se o casal permanecerá unido, e se esta crise tem a ver com ambos olharem para suas vidas, fazendo suas mudanças. Todos nós precisamos fazer isso se queremos que um relacionamento funcione. Você precisa trabalhar como uma pessoa completa. Então, se você se deixa abater ou se torna sem forças por uma razão qualquer, ou se você fica bastante afetado pelos traumas vindos do mundo, a ponto de não ser funcional em seu relacionamento, então as coisas começarão a estilhaçar. Mas isso não quer dizer que você não ame a outra pessoa.

É bom eu não acessar a internet. Se fizesse, não saberia como agir. Não saberia! Isso exige muita disciplina, mas eu sei que é um pacto que fiz no sentido de ser uma boa mãe, uma boa amiga para mim mesma e uma boa esposa. Preciso resistir a estudar esse mundo cibernético. Porque se assim o fizesse, não ficaria pronta para a tour. Sei de outros artistas que se apegam a isso, e não quero citar nomes porque seria injusto; mas de fato conheço pessoas que realmente estudam isso. E esse conhecimento afeta suas decisões, e não sei se isso é bom ou ruim, pois me pergunto, "você é um artista completamente em contato com seus instintos e ouvindo suas inspirações, ou você está indo pela opinião pública?". E você pode retrucar, "sim, mas talvez a opinião pública tenha algo a dizer". Eu consigo compreender facilmente a opinião pública em tour. Vejo e encontro pessoas o bastante durante os shows para criar um think tank. Tenho gente. Antes de qualquer trabalho ser lançado, há pessoas que o ouviram, e vou fazendo meus ajustes e correções dentro do processo. E obviamente Mark (Hawley, marido de Amos e engenheiro de som) é parte desse think tank e estamos juntos há tanto tempo. Somos casados há 13 anos e estamos trabalhando juntos desde que ele operou o som na tour do Under the Pink. Sim, ainda estamos juntos. Ele disse, "o público terá todo o tipo de perguntas por este ser um álbum muito emocional", e acho que nós sentimos a crueza do disco. mas Tash (filha de Amos de 10 anos, e que está também em Night of Hunters) não pensou dessa maneira. Quando ela nos vê, vê somente sua mãe e seu pai sendo o que são - em sua mente, ela não nos percebe como as pessoas nos fóruns. Ela vê que sua mãe e seu pai continuam juntos e que estão se beijando inapropriadamente na cozinha. É como se ela dissesse, "Arranjem um quarto!"

O que você faz quando não está sendo "Tori Amos, a musicista"? Você participa dos encontros de pais na escola de Tash? Assiste a The Real Housewives of New Jersey?

Eu de fato sentei com Tash na páscoa e assisti a The Real Housewives of New York do começo. Ela disse, "Mamãe, você vai se viciar!". Sentei comendo pipoca vendo os episódios - e não pude acreditar nisso - desde de manhã, cedinho, até tarde da noite. Minha irmã estava em voo, então estávamos esperando ela chegar, e como o tempo lá fora não estava dos melhores, nós vimos toda a temporada! Foi louco! Mas não pude assistir, novamente. Eu disse, "não posso fazer isso, Tash - nunca mais trabalharei!" Tenho um musical pra terminar. Mas eu trabalho bastante, não vou mentir para você. Não vou aos encontros - Mark lida com tudo da escola. Ela está numa instituição britânica, então ele sabe como organizar todas essas coisas inglesas - o que é bom.

E sua relação com Kate Borkowski? Há rumores de que você é a mentora dela, assim como outros rumores dão conta de que você nunca ouviu falar dela.

Hmmmmm. Ela é uma escritora?

Ela é uma musicista que gravou parte do seu novo álbum com Marcel van Limbeek (engenheiro de miragem de Tori) - parte dele no piano do Martian Recording Studio em Cornwall, que sei ser alugável pelo público e você não ter nada a ver com isso. Mas ela escreveu uma canção sobre você, e sobre o interesse dela em você, e a forma como ela imita seus maneirismo nas entrevistas é obsessivo, sendo leve com ela.

Não a conheço. Sei somente que Marcel trabalhou com ela.

Mas você não a está orientando?

Não! Ficaria chocada se ela tivesse tocado em algum dos pianos em Cornwall. Espere um segundo, deixe eu perguntar Mark sobre isso (Amos sai do fone e retorna após uns instantes). Aparentemente, ela tocou em um dos Bösendorfers em Cornwall, mas isso é novo para mim. A equipe tem muitos projetos que realizam quando não estou por perto. Esse disco foi algo que Marcel fez enquanto viajávamos por aí.

Seu pai está lançando música, também.

É o que parece! (Risos) Sei sobre a canção de Ed Amos… um… um…

"Hello Mr Dollar!"

Sim! Ele sempre teve um ponto de vista. É um pregador bastante motivado. Sinto isso como uma extensão de sua pregação.

Parece ser isso mesmo.

Eu disse, "teria cuidado em usar a palavra 'músico', pai, por haverem pessoas com 83 anos que tocam seus instrumentos já há 80 anos. Mas chamar a si mesmo de poeta? Isso é justo e respeitoso."

Fale-me sobre a tour que está chegando.

Não apresentarei Night of Hunters como um ciclo de canções completo toda noite. Não estou trazendo nem Tash, nem Kelsey (Dobyns, que também canta na faixa-título do álbum) e entendo que pessoas vindo mais de uma vez ao show se cansarão dele rapidamente. Além disso, você não é capaz de responder ao que está acontecendo no mundo se não dispor de todas as canções na paleta. Algumas canções serão somente no piano - se não forem orquestradas, isso não significa que não serão tocadas - a menos que seja "Dátura", naturalmente (risos).

Qual o problema com ela? Você nunca a tocará?

Não sei (um pouco reticente). Não sei como conseguiria apresentá-la! Poderei algum dia - preciso apresentá-la um dia, mas essa não é a tour para isso. Teria ainda de ter todas as flores comigo. Mas, sim, estamos buscando por canções de todos os álbuns para serem arranjadas pensando num quarteto. Temos nossa A List - mas gostaria mesmo de pedir a que os leitores da Out nos digam quais eles querem ouvir, mandando-as para mim. Fiz minha A List, mas não preparei ainda a B list e a C list.

Isso é incrível! Pediremos que deixem as sugestões deles na seção de comentários. As pessoas já estão se pronunciando sobre o que querem ouvir.

Bem, o que você quer ouvir?

"Father Lucifer" - voce mudou o arranjo dessa canção tantas vezes, amaria ouvir o que faria com essa agora.

Uma ótima ideia, Mais alguma?

"Flying Dutchman"

Esta seria bem desafiadora. Mas sim, preciso considerá-la. Nós já temos nossa A list. Quando eu digo "A", não significa que são minhas favoritas, significa tempos diferentes - é um grupo de canções do catálogo que acredito funcionarem com aquelas do novo disco. Por exemplo, uma canção dele que não estará pronta para ser tocada quando começarmos a tour é "Battle of Trees". Ela será uma das mais difíceis de se fazer - como Dátura - mas sem as flores (risos). Tem de ser arranjada para um quarteto, sendo que originalmente foi arranjada para um octeto.

Você gostaria de revelar algumas canções que fazem parte da A list, para atiçar o gosto dos fãs?

Direi a voce algumas que podem fazer a B list: Ribbons undone, Pandora('s Aquarium) Siren e, possivelmente, God. Elas podem fazer a B list. A razão para não estarem na A list é porque as canções desta são todas "assentadas", no sentido de que já foram treinadas com a Metropole (Orchestra) ou tenham cordas em sua versão original, pela nossa necessidade de termos um repertório completo até setembro, para um show de uma hora e meia ou mais. E nós só temos 5 dias de ensaio. Então as músicas que estão na A list não são necessariamente as canções que, de primeira, gostaria de apresentar. Há umas poucas, sem mencionar seus nomes, que nunca tiveram um arranjo, e eu disse que precisaríamos organizá-las logo por eu precisar delas, para contar minhas história. E a cada noite é preciso que a narrativa seja um pouco diferente, no entanto mantendo a ideia de um despedaçar ocorrendo, para depois extrairmos algo dele. E dependendo do que acontece no mundo, não sabemos qual o fragmentos que precisaremos recuperar. Pode ser compaixão, inteligência, pode ser fúria. É isso que essa mulher faz em Night of Hunters - ela está recuperando fragmentos de sua alma. É fácil pôr a culpa em outras pessoas de sua vida, independente de serem amigos ou pessoas com quem você trabalha. mas sejamos sinceros - muitas vezes você culpa a pessoa por quem está apaixonado ou apaixonada. Especialmente se você está apaixonado por muito, muito tempo. Se fôssemos tão respeitosos com nossos companheiros como somos com completos estranhos em Benihana (risos) - todo mundo é tão respeitoso em fucking Benihana, e então você se pega pensando, "O que eu estou dizendo para meu amor quando entramos no carro?". É sobre estarmos ciente de como você trata as pessoas que você diz amar. Nós esquecemos disso.

XXX

Caso vocês queiram sugerir canções para a Night of Hunters Tour, é só postar na forma de comentário na página da própria Out.

Fonte: Undented

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