segunda-feira, 29 de março de 2010

Tradução: The Beekeeper - "Elixirs and Herbs"

Elixirs and Herbs (Elixires e Ervas):
Este é um lugar criado para a paixão dessa mulher por suas crenças, pelo homem que ama, pela direção que a humanidade está tomando... Diz respeito a um espaço no qual ela está explorando e permitindo a si própria não só curar as feridas, mas permitir também que suas feridas expressem-se sem que isso seja um processo de vitimização. Este é um lugar que, às vezes, tem a ver com a habilidade de confrontar algo em desequilíbrio, semelhante a uma prática antiga do shaman das abelhas, desenvolvida por milhares e milhares de anos. Eles trabalham com uma tradição que lhe faz focar os olhos naqueles locais que talvez precisem ser picados, e há uma canção no álbum ligada a isso, Sweet The Sting. Para que possamos saborear a doçura, devemos entender que a sabedoria não vem sem o ferrão.
(DVD bônus da edição limitada do BKP)

SWEET THE STING (DOCE O FERRÃO)

Entrando no quarto com seu andar fanfarrão
Usando um chápeu de três pontas, bem provocante
Ele disse, “Ouvi dizer que você consegue tocar
Do jeito que eu gosto”
Eu disse, “Posso tocar do jeito que você quiser
Mas primeiro eu quero,
Eu quero saber...

Baby, é doce, doce, doce o ferrão?
É verdade que esta infusão pode ter efeito onde outras falharam?
Se sim, então alguém agite, agite, agite meus ombros,
E me faça acordar
Pois, aos poucos, estou me aproximando da cauda deste escorpião...”

Ele disse, “Abaixei minhas armas,
Com minha pistola totalmente carregada
Um homem caçado, em minha essência
Isso terminará ou começará em seu suco de cinabre?”

Baby, é doce, doce, doce o ferrão?
É verdade que esta infusão pode ter efeito onde outras falharam?
Se sim, então alguém agite, agite, agite meus ombros,
E me faça acordar
Pois, aos poucos, estou me aproximando da cauda deste escorpião...

Amor,
Deixe-me respirar, lhe inspirar
Dispersar a confusão, até que exista
Exista você
União

Baby, é doce, doce, doce o ferrão?
É verdade que esta infusão pode ter efeito onde outras falharam?
Se sim, então alguém agite, agite, agite meus ombros,
E me faça acordar
Pois, aos poucos, estou me aproximando da cauda deste escorpião...

Baby, ele é doce?
Disse,
Baby, ele é doce?

MARTHA'S FOOLISH GINGER¹

Caminhe comigo pela viela da memória,
Para depois de uma barraca de melancias no caminho
Pensando que eu tinha tudo que precisávamos
No Martha’s Foolish Ginger
Você se atrasou, como pude esquecer o que disse?
A parte de "o amor tomar o controle de sua vida"
Não estava em seus planos

Se aquelas luzes do porto ficassem a meia milha da praia,
Quem saberia dizer o que eu teria feito?
Se aquelas luzes do porto ficassem a meia milha da praia,
Quem saberia dizer o que eu teria feito?

Pelos rochedos, saí da baía
A estibordo, pude bloquear minhas visões e paixões –
Elas me mantêm acordada

Se aquelas luzes do porto ficassem a meia milha da praia,
Quem saberia dizer o que eu teria feito?
Se aquelas luzes do porto ficassem a meia milha da praia,
Quem saberia dizer o que eu teria feito?

Uma voz familiar: “Oi. Surpresa. Estive à sua procura, tentando achá-la”
Não pude falar que minhas mãos alcançaram o Martha’s Foolish Ginger
Conversamos até que a lua chegasse
Sobre como uma vida sem amor não vale muito a pena
Então, toquei esta canção

Se aquelas luzes do porto ficassem a meia milha da praia,
Quem saberia dizer o que eu teria feito?
Se aquelas luzes do porto ficassem a meia milha da praia,
Quem saberia dizer o que eu teria feito?
O que eu teria feito?
O que eu teria feito?
O que eu teria feito?

“Memórias que ainda temos”, você disse
“Para atuarmos em nosso próprio Burning Bed²”
Amor, não se equivoque pensando que não era seguro
No Martha’s Foolish Ginger

¹ "Martha's Foolish Ginger" é o nome dado por Tori ao barco no qual a narrativa da música acontece. Para ler mais, visite o Song Canvas da canção.

² "Burning Bed" é o nome de um filme estrelado por Farrah Fawcett sobre uma esposa que, depois de diversas agressões do marido, atea fogo na cama enquanto ele está dormindo. Mais informações aqui.

TOAST (BRINDE)

Pensei ter chegado a Páscoa
Pela forma como a luz nasceu,
Naquela manhã
Mais cedo, você estava na minha cabeça
Você me mostrou as cordas
As cordas que me ajudariam a escalar montanhas,
E a me retirar de uma avalanche...
De uma avalanche

Pensei ter chegado o tempo de colheita
Você sempre amou o cheiro de madeira queimando
Ela, com seu cabelo castanho-claro,
Irá lhe encontrar no Castelo Dalhousie
E no inverno,
Amarelo manteiga,
As chamas que você agitava
Sim, você conseguia agitá-las

E eu levanto uma taça
Faço um brinde,
Um brinde em sua honra
Ouço você gargalhar
E implorar para que não dancemos
E a seu lado, de pé, está o Sr. Bojangles¹
Com uma taça
Ele me diz que é hora de levantá-la,
Fazer um brinde
Um brinde em sua honra
Ouço você gargalhar
E implorar para que não dancemos
E a seu lado, de pé, está o Sr. Bojangles,
Com um brinde
Ele me diz que é hora de deixar você ir

Deixá-lo ir

Pensei que iria vê-lo novamente
Você diz que, possivelmente, sim
Talvez numa escultura talhada...
Numa catedral,
Em algum lugar de Barcelona

¹ Mr. Bojangles é um personagem real de uma canção homônima, gravada pela primeira vez por Jerry Jeff Walker. O personagem seria um dançarino de sapateado.

Nota: Arrisco-me a pensar que a referência à cidade de Barcelona tenha a ver com a música Daniel, de Elton John. Nesta, o cantor fala que Daniel viajou para a Espanha, tendo o personagem na vida real morrido. Seria como relacionar a morte de Michael Amos, homenageado de Tori na canção, com a metáfora proposta por Elton.

Por Hernando Neto

sexta-feira, 26 de março de 2010

Tradução: The BKP - Song canvas (Piece by Piece) & The BKP Edição Especial [PARTE 2]


Marys Of The Sea

Marys Of The Sea – foi escrita sobre a jornada de Maria Madalena fugindo de Jerusalém, em direção ao Sul da França, criando sozinha um ministério. Foi muito influenciada pelo Evangelho de Maria Madalena.
O canvas de Marys Of The Sea, no Piece by Piece, discorre basicamente sobre a fuga de Maria Madalena para a Gália, e Tori acaba se usando desse cenário para falar sobre os conhecimentos obtidos por ela através do estudo dos evangelhos gnósticos.

“Há um refrão aqui, claramente. Engraçado, mas essa música foi inspirada por um conto folclórico que estava lendo outro dia, o conto de Mélusine. Comecei a pouco a escrever as letras dos versos e refrão. A música que me assombrava enquanto desenvolvia o verso é um riff de piano que encontrei numa gravação de menos de um minuto – ou não... Não sei – numa fita que ouvia na esteira. Não concluí nenhuma melodia final para ir com este verso. Tenho cerca de 17 que canto no chuveiro, e nenhuma delas conseguiu ganhar de Ms. World como a melodia de Marys Of The Sea. De qualquer forma, sou assombrada por este riff, sabendo que ele deverá unir-se frouxamente ao refrão. O riff de piano do verso é um motivo musical que circula em torno de si, conjurando a figura de um anel, uma imagem que acaba funcionando em nossa história.
Enquanto estava pesquisando sobre o assunto descobri que os primeiros cristãos faziam a dança do anel próximo da época de Jesus antes do Concílio que produziu o Credo de Nicéia (325 d.C.) e de Constantinopla ter se tornado cristã (381 d.C.). Isso me compeliu a buscar por informação em todos os lugares possíveis. Encontrei um conto folclórico baseado no poder do Mito do Anel, o que me levou a perseguir o mito do Senhor do Anel (o mesmo que inspirou Tolkien a escrever “O senhor dos anéis”). Historicamente, há uma cultura do senhor do anel, ecoando desde tempos sumérios e ‘scythianos’ antigos. Na antiga Suméria, região mesopotâmica, os Deuses e Deusas Anunnaki, a aproximadamente 4000 a.C., implementaram o anel como parte da política municipal. Quis encontrar uma seqüência de fatos históricos que se originassem com Tiamat, a Rainha Dragão, e encontrei uma.
A história de Mélusine, cujo conto (e realmente cauda) nos diz dela carregando três anéis. Esta narrativa termina no território da França dos dias atuais. Ela vem de uma tradição que ecoa do Sagrado Feminino. A história parece ser datada em 733 d.C., o que nos mostra que a dança do Anel conseguiu se sustentar por milhares de anos. Parece ter ocorrido na antiga Suméria, se originando possivelmente na ‘Scythia’, chegando à região do Mar Negro sobre as Montanhas Carpatianas, região conhecida hoje como Bálcãs.
A filosofia por trás da cultura do anel pareceu se espalhar da Scythia à Mesopotâmia, Egito e Europa, neste caso chegando ao território conhecido como Irlanda e Grã-Bretanha. Nestes locais, o anel representa eternidade, totalidade e unidade. Muitas Deusas foram caracterizadas durante a história antiga com os símbolos do anel e da ordem, a ordem representando uma lei universal justa e o anel simbolizando soberania. Alguns historiadores pensam ser possível Jesus ter dançado o anel, e que ele tomou parte na dança como numa velha cerimônia sagrada. São Agostinho de Hippo, de acordo com textos antigos, escreveu sobre uma dança do anel relacionada a Jesus e seus apóstolos. Isto pode significar que a Madalena provavelmente dançou o anel também, trazendo assim a sabedoria dos anéis para seu círculo íntimo.
Enquanto me apego a diversas possibilidades para desvendar o código desta canção, retrato todas as idéias numa tela. Haverá várias telas para Marys of the sea – Les Saintes Maries de la Mer. Pela Madalena ter ido em 44 d.C. à França e ter morrido no local denominado hoje de Saint Baume, em 63 d.C., em Aix-en-Provence, ela é lembrada como a Dama das Águas. Escolhi incorporar a expressão em Francês por esta ter existido exatamente assim por centenas e centenas de anos, da forma como a história foi passada e chega até nós, hoje. Estou tentando trazer diferentes perspectivas ao mito da Madalena, em Marys of the sea. Naturalmente, a canção a inclui como parte do Hiero gamos, o casamento sagrado, mas também, como um assunto subjacente, inclui-se a atitude sexista para com as mulheres assumida pelo discípulo Pedro e o apóstolo Paulo, os pais da teologia da Igreja Católica Ortodoxa. Este sentimento sexista surgiu em homens saudosos à tradição cristã ortodoxa antiga, um deles sendo o Bispo Irineu (que poderia ser a imagem especular de minha avó religiosa, se você ignorar a diferença sexual entre eles). O bispo não era fã do que chamamos de Evangelho gnóstico, assim como um outro homem religioso chamado Tertuliano. Tirado do livro “The Gnostic gospels”, de Elaine Pagels: “Tertuliano dirigiu outro ataque contra ‘aquela víbora’ – uma professora que liderava uma congregação no Norte da África. Ele mesmo concordava com o que chamou de ‘Preceitos da disciplina eclesiástica considerando as mulheres’, que especificava: ‘Não é permitido a uma mulher falar numa igreja, nem lhe é permitido ensinar, batizar, oferecer (a eucaristia), ou clamar para si a participação em qualquer função masculina – sem mencionar os atributos de um padre’”.
Marys Of The Sea foi também inspirada pelo evangelho de Maria Madalena, traduzido do Copto com comentários por Jean-Yves Leloup. Este evangelho lança bastante luz sobre as relações internas dos discípulos. A inveja nutrida por Pedro em relação à Madalena é óbvia, quando, neste evangelho, ela está repassando o que Jesus (o Mestre) tinha lhe ensinado em particular. Quando ela concluiu, depois de André (irmão de Pedro) expressar que não tinha acreditado que o Mestre ditou essas idéias, “... Pedro falou também, ‘Como é possível que o Mestre falou dessa maneira, com uma mulher, sobre segredos dos quais nós mesmos somos ignorantes? Devemos mudar nossos hábitos, e ouvir esta mulher? Ele de fato a escolheu, a preferiu em relação a nós?’”.
Depois da explicação de Leloup acerca dessa passagem, o que expandiu minha visão sobre ela, o evangelho continua: “Então Maria lamentou, e o respondeu, ‘Meu irmão Pedro, o que pode você estar pensando? Você acha que isto é apenas minha imaginação, que eu inventei essa visão? Ou você acredita que eu mentiria sobre nosso Mestre?’”. Naquele momento, ficou claro como cristal que esta é uma mulher a quem não era permitido vencer. Ela não pôde vencer na história, e foi relegada à sua posição de prostituta. Ela não pôde vencer com seus contemporâneos, a maioria dos quais eram discípulos, por estarem cheios de inveja sobre a intimidade dela com Yeshua ou Jesus (o Mestre).
Escolhi também salientar a intimidade entre Jesus e Maria Madalena em Marys of the sea. Fui parcialmente levada a isso por causa de uma passagem do evangelho de Filipe (59:9), a qual cito daqui pela introdução de Leloup para o livro The Gospel of Mary Magdalene: “Considerando a natureza única e particular da relação de Jesus e Maria Madalena, o evangelho de Filipe insiste, por exemplo, que Maria era uma companhia especial para Jesus (koinokos)... ”O senhor amava Maria mais do que todos os discípulos, e freqüentemente a beijava na boca. Quando os outros viam como Jesus amava Maria, eles diziam ‘Por que você a ama mais que nós?’. O salvador respondeu dessa forma ‘Como seria possível que eu não ame vocês da mesma forma que a amo?’”.
Também mencionadas nesta canção são as Mulheres escarlates, as mulheres sagradas – As Hierodulau. Madonna Negra foi um título atribuído à Madalena por muitos. Vindo de Bloodline of the Holy Grail, por Laurence Gardner:
A Madonna Negra tem sua tradição na Rainha Ísis e suas raízes na pré-patriarcal Lilith (a primeira mulher de Adão). Ela então representa a força e a igualdade para o feminino – Uma figura de comando, orgulhosa e imediata, contrária à imagem estritamente subordinada da convencional Madonna Branca, como vista nas representações da Igreja da Mãe de Jesus. Era dito que tanto Ísis e Lilith sabiam o nome secreto de Deus (um segredo guardado também por Maria Madalena, ‘a mulher que tudo sabia’). A Madonna Negra é representativa então da Madalena, que de acordo com a doutrina Alexandrina, ‘transmitia o verdadeiro segredo de Jesus’. De fato, o culto já antigo à Madalena era fortemente associado com localidades da Madonna Negra. Ela é negra porque a Sabedoria (Sophia) é negra, existindo na escuridão do Caos antes da criação. Para os ensinamentos gnósticos de Simon Zelotes, a Sabedoria é o Espírito Santo – a grande e imortal Sophia que deu origem ao primeiro Pai, Yaldaboath, vindo das profundezas.
Centenas de anos depois da histórica Les Saintes Maries de la mer ocorrer, aparentemente porque a Madalena viajou também com duas outras Marias, descobrimos a Mélusine histórica que trouxe seus anéis à França, vinda das terras píctias da Caledônia (No extremo Norte da Bretanha, área incorporada posteriormente no que conhecemos hoje como a Escócia). No fim, Mélusine provavelmente terminará evoluindo numa canção totalmente distinta (NP: Vide Dolphin song), e Marys of the sea permanecerá com sua identidade preservada. Uma separação amistosa de fato ocorrerá – tal qual uma divisão celular – criando uma linhagem de mesma origem sanguínea.” (Song canvas, Piece by Piece)


Garlands

“‘Washington Square’ ou ‘Garlands’ (ainda estou indecisa quanto ao título da canção: quando for lançada você saberá qual eu escolhi) foi escrita quando estávamos congelados – algo como nos dias em que é perigoso demais dirigir em estradas com gelo, aqui no oeste da Inglaterra. Comecei esta canção no outono, quando estávamos em Boston fazendo um grande show de rádio em Outubro, 2003, e então não pude encontrar as suas fundações até que estivéssemos cobertos de neve, na Cornualha. Me empacotei na grande e sempre disponível jaqueta de meu marido, e fui dar uma volta com minhas botas. Quando voltei, não fui para casa. Fui ao celeiro, sentindo o cheiro do fogo pelo caminho, fazendo o percurso de uma abelha até o Böse. Isabella estava lá, à minha espera, num feixe de luz sobre o piano, e ela disse, “Escreva-me numa canção. Quero acessar esta dimensão”. Respondi, “Converse um pouco comigo”. Comecei a tocar algo aleatoriamente para não perder o momento, e ela disse, “Você ainda está sofrendo”. Eu a perguntei, “Você está falando do quê?”. “Eu estava lá, naquele dia”. Perguntei, “Que dia?”. “Aquele quando você andou pela Praça de Washington e pude ver uma lágrima que você escondeu; eu levantei uma vela para lhe guiar”. Olhei para esta gloriosa visão de luz, e dei um leve sorriso. “Bem, Isabella, então sabemos em que canção você está, não?”. Ela me abraçou por um momento e então, dançando, voltou ao feixe de luz do qual ela tinha vindo. Terminei Washington Square (ou Garlands) naquele dia.
A palavra ‘garlands’ (“guirlandas”) casou-se com a melodia desde seu início; sabia que ela queria ser utilizada, mas ela fugiu de mim por meses, principalmente porque eu a associava com o costume antigo de grinaldas e flores para casamentos, funerais e celebrações tão ancestrais quanto o Beltane e o Dia de Maio. Então, naquele dia, depois de Isabella lançar a faísca sobre mim... Acho que você pode dizer que é meu sexto sentido – Ela aumentou o volume dele – Comecei a perceber que a minha definição de guirlandas era a razão para que eu não pudesse costurar esta palavra à tapeçaria da canção. Sentei neste velho divã que supostamente veio da Rússia do Séc. XIX... Tive de recuperá-lo pelo menos três vezes por causa de manchas de café e baba de bebê, mas este é meu canto de reflexão, e é meu divã de golfinho por causa das duas réplicas de cetáceos existentes de cada lado. É feito de um material que me remete à sálvia, o que, por sua vez, me faz lembrar do New Mexico, aquela planície coberta com sálvia branca bem ao lado das Montanhas Sangre de Cristo. Olhei para a cor da parede, que pintei para me recordar dos céus daquele lugar, uma cor cremosa de tangerina, ou como diria Tash, cor de pudim Satsuma de baunilha.
Tive vontade de pegar um livro que tivesse desenhos nele. Naquela semana, havia acabado de abrir uma caixa com livros de arte que obtive em minhas viagens. Alguns estavam ainda em seus plásticos, sobre o chão. Um deles prendeu meus olhos, e lá estava. Litogravuras de Chagall. Estas guirlandas de litogravuras – feixes explodindo em cores – são o que os amantes da história usaram para narrar sua história de amor. Nossos amantes encontram-se na Praça de Washington, e seguem em direção à cidade alta para ver uma exibição de Chagall. Enquanto adentravam e saíam destas imagens, temos uma perspectiva do amor que tem, um pelo outro, algumas das crenças com as quais eles lutam, e uma força obscura no relacionamento deles que parece ficar entre os dois. Esta força obscura pode ser o pai dele, ou o professor de arte dela que parece querer controlar os caminhos que seu talento deve seguir; possessivo um pouco demais, na opinião de Isabella...” (Song canvas, Piece by Piece)


Jamaica Inn

A canção trata de um naufrágio sofrido pela personagem encarnada por Tori. Há referências diretas a livros de Daphne du Maurier, a começar pelo título da própria música.

“Por esses dias, tenho me ocupado com a idéia de uma chama contida. A idéia de um farol. Quando ouvia falar um pouco sobre as histórias da Cornualha, fiquei fascinada com aquelas sobre causadores de naufrágio. Estes causadores não provocavam destruição acidentalmente. Ao segurarem uma luz davam aos navios a falsa impressão de que era seguro aportar lá. O livro de Maurier entra em detalhes sobre este hábito cornuês. Aparentemente, até vigários segurariam uma luz falsa, para que, quando algum navio estivesse naufragado, eles pudessem sustentar uma vila com os bens contrabandeados chegados pela água. Enquanto dirigia pela costa de Bude a Podstow, me senti conectada a idéia moderna de um ‘naufrágio do lar’. Em meu carro, comecei a cantar o refrão de Jamaica Inn, depois de vislumbrar um pequeno bote enfrentando a ventania, no qual eu estava. Teria escrito essa canção no sul da Califórnia? Provavelmente não. Afinal de contas, eu estava na terra do livro de Maurier, um lugar real, como em ‘Rebecca’, outro de seus livros que se passou na Cornualha. Faço referências aos dois livros em Jamaica Inn por Ambos serem ancestrais à canção. E até hoje, não sei se minha personagem sobreviveu ao naufrágio no qual ela estava...”. (Song canvas, Piece by Piece)

Cars And Guitars

Tori parece brincar com peças de carros e trocadilhos para construir a narrativa de uma mulher que, de repente, vê a si mesma numa encruzilhada emocional. Essa mulher começa a pensar se não deveria apenas “continuar dirigindo”, deixando para trás sua vida, num ímpeto destruidor-transformador. O canvas desta canção no Piece by Piece aborda a situação:

“Numa manhã, há algum tempo atrás, estava dirigindo no centro da Cornualha, e um cenário surgiu em minha cabeça. Uma mulher que continuou dirigindo. Ela levanta pela manhã, tem de ir ao trabalho, deixar os filhos prontos para a escola, lidar com o marido e seus parentes... As necessidades de todo mundo. Ela acaba completamente depreciada, e hormonal – só Deus sabe o que estaria acontecendo naquele dia. Então, diz, “Não consigo fazer isso nunca mais” (Soa familiar?), e continua dirigindo. Ela não pega o filho na escola – faz uma ligação e pede, “Preciso que você o pegue, cuide dele até eu voltar para casa”. Então, talvez ela tenha caminhado para fora de sua vida. Não necessariamente se mata, apenas decide, “Eu não consigo fazer isso nunca mais”. Essa história provavelmente ocorre todos os dias. Não sou eu – eu não continuei dirigindo. Mas quis explorar esse aspecto. Acho difícil para um público aceitar que um artista amado por eles, um dos “good guys”, pode explorar um arquétipo como esse – nesta história, é Kali, a Deusa da destruição, que fez seu papel – e isto pode ser assustador.
Certos arquétipos são assustadores por trazer à tona algumas de nossas qualidades que estavam enterradas bem lá no fundo. Às vezes, porém, essas qualidades transbordam e, nesse momento, Pele chega, podendo funcionar como uma professora que lhe ensina a se despedir de metade de sua personalidade, até ali.
Mesmo assim, posso lidar com isso”. (Song canvas, Piece by Piece)


Sleeps With Butterflies

“Estava pesquisando e listando palavras que me soavam bem e tinha alguma relação com a polinização. Há uma lista imensa de centenas de palavras... Então, para descansar um pouco minha mente, fui passear pelo campo que ficava atrás de casa, no jardim de vegetais e na estufa. Passei um tempo lá, decidindo com meu marido aonde plantar a lavanda – sempre que há algum sol na Inglaterra, não há como ter certeza de sua permanência... Então você deve até cozinhar nele, fazer o sacrifício, se necessário – para que as flores durem pelo dia todo. Sendo este um dia glorioso de sol na Inglaterra, no meio da primavera, fingi que estava cansada de tocar piano e fui flertar com o sol. Quando voltava do campo, pensando na escolha das flores, meu marido decidiu seguir para o jogo do Arsenal e eu fui à mesa de piquenique onde estava meu livro de jardinagem. Passei pelo estúdio com suas grandes portas de celeiro pintadas em madras, num tom de pêssego toscano, a qual eu tinha aberto diariamente enquanto praticava. Então... Bam! O refrão de SWB começou a sair das teclas e ela estava completa. Depois de semanas tentando traduzir minha idéia para um refrão, o verdadeiro parou em minha frente e disse, “T, meu bem, registre-me logo, pois quero ir lá fora flertar com o sol também”.
Ela surgiu como efeito do dia? Do clima? Certamente. Se estivesse num outro lugar, então algo tão simples como o canto de um pássaro mudaria as coisas”. (Song canvas, Piece by Piece)


General Joy

Como uma compositora e alguém que narra sua época, preciso ficar ciente do que é corrente. Decidi incluir General Joy no álbum porque a escrevi em Julho de 2004, e ela ainda hoje é relevante. Ainda estamos em guerra, o que mostra a atualidade desta canção. Uma situação meio contraditória é o nome dele, General Joy (“Alegria”), pois se pode dizer que não são muitos os generais que podemos chamar assim. General Joy perdeu seus garotos, e eles foram deixados para trás; ele precisa agora de uma soldada, visto que a liberdade foi amordaçada. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD)

Mother Revolution

“Mother Revolution” é essência. Pelo álbum girar bastante em torno dessa idéia de dar condições para a continuidade de próximas gerações, as canções começam a falar sobre como será a vida se as massas não escolherem um caminho que respeite as necessidades da geração a seguir. Mães, então, teriam de fazer uma escolha: se elas estarão tranqüilas ou não em mandar seus filhos para uma guerra da qual elas desconfiam.
Comecei a compreender uma revolução interna, muito mais forte do que milhares de soldados; ela funciona como uma artilharia da alma, e se expressa numa resolução que observei em uma mãe preocupada. Os mestres têm nos falado sobre a complexidade das colméias que amam habitar os pomares, e eu me senti atraída a isso por causa da videira, do fruto e da transformação da vida. Tornar-me uma mãe me trouxe a minha maior professora. Ela tem quatro anos, e nós estamos em comunicação, em harmonia... Estamos envolvidas no equilíbrio entre mãe e filha, não sendo eu a autoridade ou ela a garota precoce mantendo tudo em controle (mesmo às vezes isto sendo verdadeiro...). Quando mantemos o equilíbrio, estamos partilhando desta dança, esta dança sônica que as canções tentam me mostrar desde minha mais tenra idade. Mas é ela, através dela... É a canção dela que está começando a me mostrar. E esse sentimento vive no “Pomar”, junto à Árvore do Conhecimento. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD)


Ribbons Undone

“Ribbons Undone” é uma canção que explica o amor de uma mãe e de um pai por sua filha. Eles a vêem correndo pelo campo com suas fitas voando, e elas acabam parecendo com pequenos flashes de luz que se espalham, especialmente quando você está atrás dela. Você pode correr e correr para pegar borboletas, imaginando que pode voar como uma delas.
Observava Tash correr e comecei a me lembrar de algo que minha mãe havia me dito, anos atrás. Nós olhávamos para um espelho, e ela disse, “Esta mulher, que vejo você ver, esta mulher velha e enrugada, é uma estranha para mim”. Eu disse, “Você é a mais bela mulher que eu conheço”, e ela respondeu, “não se distraia pelo que estou lhe dizendo. Aquela é uma estranha para mim. Por dentro, estou correndo. Meus pés podem me carregar. Não tenho qualquer problema cardíaco. Não sou alguém que precisa de cadeira de rodas. Sou alguém que sai para pegar borboletas, nos olhos de minha mente”. Quando então vi minha filha correndo, vi também minha mãe. E comecei a perceber que esta é uma distração que, às vezes, nos enfeitiça, pois pode começar a nos fazer crer que somos velhos em espírito. Você pode começar a pensar que não é apenas a caixa do violino que está um pouco desgastada... Pode começar a pensar que o violino não tocará nunca mais. Neste ponto, você deve ir à Árvore do Conhecimento, e eu... Eu provei da sabedoria de minha mãe olhando no espelho. E hoje, eu a vejo correndo. Minha mãe sempre correrá, junto a Tash, de mãos dadas... Ribbons undone é um espaço no qual estou também correndo, com elas, lado a lado. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD)


Um momento com Tash:
“Mãe, posso desenhar uma figura?”.
”Claro, queridinha”.
”Eu quero usar os seu lápis coloridos...”
”Está bem, deixe-me pegá-los pra você".
”Está certo, está certo, eu os pegarei!”.
”Vou dar um gole do meu chá verde, então”.
”Deixe que eu sirvo você, mãe”.
”Ok, queridinha, mas o bule é feito de porcelana, então ele pode quebrar se cair... Você pode usar ambas as mãos?”.
“Porcelana não quebra se ela cair sobre o sofá da sala de estar”.
”Bem, se cair na xícara podem ter uma colisão, desse modo quebrando ambos”.
”Olhe, essa garrafa d´água não é de porcelana. Isso é plástico, mãe. Observe-a cair”.
Então a garrafa d'água caiu rapidamente, e por sorte eu a havia fechado a tampa com força.
”Mãe, olhe! Estes lápis coloridos são flores e esta bandeira protege mamães e papais”.
Tash apanhou a bandeira britânica que tinha sido comprada para as festividades do futebol antes de, é claro, a Inglaterra ser eliminada nas quartas de final do Euro 2004. Ela começou girando o que ela chama de sua varinha e disse, “Eu sou a fada, mas não a fada alien (NP: alien = forasteiro/ alienígena). Sou boa para mamães e eu tenho estas flores, olhe. Mas as fadas alien gostam de preto, então vou dar a elas uma flor negra”.
Então Tash prossegue tirando um lápis de cor preta, que tinha conseguido dentro dos meus lápis de cor de arranjo floral.
”Mamães não precisam de flores negras”.
”Mamães não ligam para flores negras”.
”Não, mas as fadas alien precisam mesmo, mesmo, mesmo de flores negras porque é escuro”.
”O que é o escuro?”.
”De onde as fadas alien vem. Elas vem de onde existe brilho (NP: twinkle= brilho, fada “sininho” do Peter Pan) no céu”.
”Não, você era um brilho no céu”.
”Não, essa era Natashya. Eu sou a fada. Aqui, olhe. Cá esta seu microfone”.
Quando ela me fala isso, fico surpresa, porque quando ela não é Natashya gosta de ser a criatura que ela inventou, chamada ‘Alice Lily Horsey RIBBONS’, o qual se entrelaçou em “Ribbons undone”. Eu não usei essas palavras nesta ordem, mas as usei em uma alusão, principalmente pra capturar o espírito de Tash. Tash apanhou uma pequeníssima lanterna que Mark usa pra enxergar o equipamento na mesa de mixagem durante um show ao vivo. Começo a cantar uma canção boba e Tash diz - perdão, a fada diz, "Cante apropriadamente. O show está preste a começar”. Então rapidamente meu cérebro está tentando encontrar uma canção apropriada às 7:15 da manhã pré-jardim de infância. E uma das minhas novas canções para o álbum salta em minha cabeça, talvez por ter a palavra "porcelana" nela. Então continuei a cantar a canção apropriadamente, enquanto Tash preparava as luzes para a apresentação. Eu termino a canção e ela diz. "Quando eu era um brilho no céu, eu queria que você casasse com o meu pai. E eu lhe disse, não disse?”. “Acho que sim”. “E você me ouviu, não ouviu?”.
“Acho que sim".
“Você ia casar com um outro garoto, não ia?”.
“Não sei se ‘casar’ é correto, mas eu tive outros namorados, sim”.
”Mas seu último namorado não era meu pai, era?”.
”Não, você está certa. Meu último namorado foi o último namorado que tive, porque então eu estava com seu pai”.
”Mas eu não queria que o seu namorado fosse meu pai”.
”Bem, meu último namorado era muito bom”.
”Mas ele não era o meu pai! Eu te disse isso quando eu era um brilho no céu. E eu escolhi meu pai para você, pois eu te amo”.
Àquela conjuntura, o carteiro está na porta e o pai dela entrou do trabalho. O carteiro diz, “Você não precisa dessa bandeira, querida. Todo o time de futebol voltou pra casa, pois eles perderam”. O carteiro e o pai de Tash dão um pequeno sorriso e o carteiro diz, “Todos nós temos que fazer uma jogada, então você não precisará dessa bandeira, querida”. Tash presta atenção, girando a sua bandeira/varinha, olha para o carteiro e diz, “Esta bandeira protege mamães e não papais, das fadas alien”.
E naquele momento, estava claro como cristal que Tash foi a única que obviamente tinha “feito uma jogada”.

(Song canvas, Piece by Piece)

The Beekeeper

Minha mãe esteve muito doente este ano. Tive de entender que não estava pronta para, naquela época, deixá-la ir. Então, o que se pode fazer? Bem, você pode ir ao encontro da Apicultora, não é? Então, na canção The Beekeeper eu viajo para encontrar a Mestra Apicultora, uma espécie de shaman trabalhando para manter tudo em união dentro do jardim, garantindo que tudo será polinizado, que haverá vida, e que se houver alguma enfermidade, ela será sanada com prontidão. Não tinha certeza se minha mãe sobreviveria, mas a Mestra Apicultora explicou que, sem dúvida, ela esperará. Você não acredita em infinidade, na forma da infinidade? Este é o ofício das abelhas. É isto que é feito pelas operárias. Esta é a dança delas. Você não crê no mistério da Madalena, na linhagem de Deméter? A eternidade dos ciclos, da Mãe e Filha. Pois não importa aonde ela acordar, ela ainda será sua mãe... Mesmo que não nesse plano, ela ainda será sua mãe. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD).

Toast

Logo, tive de lidar com a condição cardíaca de minha mãe, pois ela sobreviveu a um ataque em Setembro. Por causa disto, comecei a pensar sobre o ciclo da vida e lembrei que a morte em si faz parte desse ciclo. Mesmo entendendo isso, em lógica, emocionalmente não podia aceitar a perda dela. A canção tornou-se mais clara com o passar dos dias, e comecei a entender a Apicultora que havia levado minha personagem na canção até a Morte, para que eu pedisse pela vida de minha mãe, a Abelha Rainha, nesta música. Pouco eu sabia, porém, que apesar da morte ter passado bem perto de minha mãe e ela ter sobrevivido, aquela seria a última vez que veria meu irmão, quando voltei para ficar ao lado dela, em sua cama. Então, a vida/morte tem seu próprio ritmo e rima. (MSN Online Chat, Feb 22, 2005).

Por Hernando Neto e Netto Epfel (Ribbons Undone).

terça-feira, 23 de março de 2010

Tradução: The BKP - Song canvas (Piece by Piece) & The BKP Edição Especial [PARTE 1]


The Power of Orange Knickers

“Comecei a pensar na palavra ‘terrorista’. É uma palavra que hoje se ouve muitas vezes, num único dia. Comecei a pensar sobre o que é ser um terrorista em diferentes situações. Quis explorar o reino da invasão íntima. Agora, podemos falar de invasão por alguém conhecido, não um estranho. Todos nós sabemos de estranhos completamente tomados pelo ódio, estranhos que atacam um governo ou um ideal. Como resultado, este estranho mata pessoas inocentes, tragicamente, pessoas que você conheceria pessoalmente. Mas, quando há intimidade entre pares, e um começa a se sentir invadido pelo outro, isto se trata de terrorismo íntimo. O campo de batalha entre dois amantes, dois amigos, ou dois colaboradores, pode ser viciante. Doloroso. Pode partir corações. Ser sangrento. Comecei a pensar sobre as armas que poderiam ser usadas neste tipo de batalha, e à medida que afundava em minha busca, esbarrei no reino da ‘assonância’. Pensei, ‘Ok, qual o paradoxo para a palavra terrorista?’ E a assonância, esta bela criatura, veio em meu socorro e soprou, ‘Beijo’. E, de fato, todos nos sentimos invadidos por um beijo lancinante, para o bem ou para o mal. Tive de encontrar, porém, o terrorismo não só num relacionamento de um casal – representado por dois seres distintos, mas dentro de um único ser. Afinal de contas, não é esta a última instância, a dor mais basal – divisão dentro de um ser, a alma do corpo, a mente do coração, a sabedoria da consciência, o vício da cura, as duas Marias... Divididas?” (Song canvas, Piece by Piece)

Witness

“A traição surge de formas estranhas e, às vezes, vem de lugares inesperados. A vida pode parecer normal em alguns dias, por dizer. Porém, em outros, você acaba se sentindo dentro de algo sinistro, como um romance de Hermann Hesse. Gostaria de lhe dizer que nada mais me surpreende. Porém, infelizmente, isso não é verdade. A fama e o dinheiro expõem as pessoas a quem elas são, de verdade. Alguns estão dispostos a tudo para mantê-los. ‘Witness’ é uma canção sobre traição, e esta semente sempre é plantada no Jardim da Sin-sualidade...” (Song Canvas, Piece by Piece)

Martha’s Foolish Ginger

“Comecei a escrevê-la há anos atrás, quando estava próxima da água, em algum lugar em turnê. Tinha apenas uma idéia embrionária do que ela seria, mas a canção permaneceu por um tempo comigo, assim. Na turnê ‘Lottapianos’ de 2003, quando estávamos em San Francisco, mais uma vez na baía, a canção começou a voltar para mim. Uma vez que passei a entender melhor a personagem feminina que deveria incorporar, me senti capaz de concluir essa peça. A verdadeira virada, porém, ocorreu quando consegui ver o barco da personagem, chamado por ela de Martha’s Foolish Ginger, navegando para fora da baía em direção ao Oceano Pacífico.” (Song canvas, Piece by Piece)

Goodbye Pisces

“Fico meio idiota com uma boa canção de amor. Uma das minhas amigas enviou-me este livro, chamado ‘Sextrology’, principalmente pelo envolvimento dela com astrologia. Estava o folheando certa noite, e comecei a pensar sobre como num relacionamento é impossível evitar, às vezes, de pôr as atitudes de seu amante sob o jugo do signo dele. Não acho que o personagem dessa canção seja necessariamente um pisciano; ele talvez tenha peixes em algum lugar de seu mapa astral. Porém, mais que qualquer outra coisa, esta canção fala sobre o fim de uma era – Não importando se essa era é um relacionamento, ou a de Peixes, que perdurou pelos últimos 2000 anos. Às vezes, inclusive, um relacionamento pode parecer que já perdura por 2000 anos”. (Song canvas, Piece by Piece)

Hoochie Woman

“Isto é muito simples no mundo das garotas: algumas são tesudas, outras não, e algumas mais nunca deveriam tentar ser. Não é diferente da idéia envolvida no esporte. Agora, posso ir para minha esteira quatro vezes por semana, por 22 minutos, e isso me dá a sensação de que flerto com o mundo do esporte. Similarmente, uma mulher pode se vestir com uma bela peça para o seu homem, para aqueles momentos, e aí, ela acaba paquerando algumas roupas utilizadas comumente por mulheres tesudas. Mas em momento algum se confunda. Minha esteira e eu não podemos nos considerar atletas. Usar roupas de uma mulher tesuda não a transformará numa. Então, se você é uma verdadeira mulher tesuda, talvez roupas abaixo do umbigo sempre estejam em seu futuro. Se você não é, por favor, não jogue fora sua jaquetinha de algodão”. (Song canvas, Piece by Piece)

Ireland

“Enquanto escrevia ‘Ireland’, estava lendo um livro que ganhei de um jornalista sobre James Joyce, e fiquei completamente seduzida pela sua tapeçaria, sua vida. Existiu uma freira corrompida que havia lhe ensinado o nome das montanhas lunares. Compreendi que se ‘Ireland’ fazia referência a James Joyce, então era necessário ter freiras... E se tivéssemos freiras, precisaríamos invocar também sadomasoquistas de colarinho branco, vindos de Wall Street. Ter eles nos leva aos Vikings, desde que você considere que a presença destes é ainda sentida em qualquer lugar da Irlanda. Se você tem vikings, deve-se incluir as lendas irlandesas antigas, que costumam ser divididas em quatro ciclos (O ciclo mitológico, o ciclo de Ulster, o de Fianna e, por último, já no início da era cristã, o ciclo dos Reis) (...)
‘Ireland’ incorpora também a história de Macha, a Deusa da Maternidade e laços sanguíneos, que, quando grávida de nove meses, foi obrigada pelo marido a correr contra os cavalos do rei, para confirmar uma vantagem contada por ele. Macha correu mais rápido que os cavalos – E amaldiçoou os filhos de Ulster depois de parir seus gêmeos. Tarde da noite, nos pubs da Irlanda, você às vezes ouvirá alguém mencionar a maldição de Macha, que, para muitos, ainda pode lhe pegar quando você menos espera.” (Song canvas, Piece by Piece)

Barons of Suburbia

“Esta canção é sobre ‘saqueadores’. Nós todos os conhecemos, como pessoas de nosso trabalho, ou amigos que nos surpreendem, ao percebermos que quando a situação começa a ‘feder’, estarão mais preocupados em saber o que restou para eles nisso tudo. No fim das contas, eles nem ao menos fingem estar preocupados com seu bem-estar, ou o bem-estar da amizade, ou qualquer outra coisa. Qual o problema da idéia de que ambos vençam? Porque sempre alguém tem de comer poeira? Jesus... Por esses dias, está ficando mais difícil formar uma equipe na qual as pessoas valorizem umas às outras. Podem até lhe dizer isso, mas, no fim do dia, cada um se importa apenas com o que poderá levar numa dada situação.
Lembro-me que há alguns anos atrás, um dos músicos disse a mim, ‘Acho que a música deveria ser de graça’. Não estava com humor para lidar com mais outro gênio, mas fiz isso, e respondi, ‘Bem, você fez com que a questão sobre para onde mandar seu cheque ficasse mais fácil de responder’. “Um”, disse o músico, ‘Onde você quer chegar?’. Respondi, ‘Não tínhamos certeza se enviaríamos seu cheque para o seu endereço ou para o de sua namorada, mas agora você respondeu a questão para mim’. ‘Não estou conseguindo lhe acompanhar, Tor’, disse. ‘Bem, já que você disse que música deveria ser de graça, obviamente não precisamos mandar seu pagamento para você’. O músico olhou para mim, incrédulo, e com um tom de choque na voz, retrucou, ‘Mas eu toquei com todo meu coração’. Olhei para ele, serenamente, e disse, ‘Então você acha que deve ser pago, mas música deveria ser de graça?’. ‘Bem, sim’. ‘E quem você acha que vai lhe pagar se a música for de graça?’, eu perguntei. É aí que está o problema – todos querem as coisas de graça, mas ninguém quer trabalhar de graça.

A verdade é que todas as pessoas que um dia me disseram que música deveria ser de graça ainda acreditam que devem ser pagas por seu trabalho, não importa que trabalho seja. Sentem-se completamente insultadas quando sugiro a elas que trabalhem de graça. Comumente ficam na defensiva nesta situação, e dizem, ‘Se eu não sou pago por um dia de trabalho, então estou sendo lesado’. Olho para eles e digo, ‘Concordo com você’. O músico em questão olhou para mim, como uma ovelha, e disse, ‘Acho que soei bem hipócrita... Mas, Tor, você está apenas brincando, né?’. E eu disse, ‘Sobre não ser pago? Tenha certeza que lhe pagarei, porque valorizo o que você faz. Mas você quer saber o que realmente me assusta, e eu digo, o que realmente me assusta?’. Ele me olhou, completamente desconcertado e disse, ‘Não... O que realmente lhe assusta?’ ‘O fato’, eu disse, ‘de que você não estava brincando’”. (Song canvas, Piece by Piece)

Original Sinsuality

“Com o Little Earthquakes, comecei a encarar a divisão que existia entre as duas Marias, tanto no meu íntimo como numa perspectiva mais ampla. Durante a fase do Pink, continuei a explorar esse caminho. Acho que assumir o papel da Sra Deus, ou da amante de Deus, na canção que chamei ‘God’ foi um grande passo para que eu pudesse reunir as duas Marias dentro de meu ser. Comecei a entender que precisava das vozes de ambas para assumir o arquétipo da Sra Deus, necessário à interpretação da canção. E quando me pergunto a questão que muitos já me fizeram antes, ‘Qual o Deus na canção God? Você menciona Deus, Deus?’, a resposta é, ‘Depende do que você pensa ser Deus’. Em Beyond Belief: The Secret Gospel of Thomas, Elaine Pagels lança luz sobre o conceito de ‘Deus atrás de Deus’ de alguns dos primeiros cristãos, por fazer referência a diferentes textos encontrados em Nag Hammadi (localidade no Egito aonde, em 1945, foram encontrados 13 manuscritos, reconhecidos como ensinamentos não-oficiais do Jesus Cristo e fundadores dos Evangelhos Gnósticos): Tomando o apócrifo, o livro secreto de João, Pagels escreve, ‘o livro secreto conta-nos uma história intencionada a nos mostrar que, apesar do Deus-criador definido no livro de gênesis ser apenas uma imagem antropomórfica da fonte Divina que criou o universo, muitas pessoas o confundem com o Todo Divino. Esta história conta como o Deus-criador em si, não sabendo da existência do Abençoado, O que abarca a Mãe e o Pai, o superior ungido em benção e feito de compaixão, vangloriou-se de ser ele o único Deus (Sou um Deus ciumento; não há outros iguais a mim). Querendo manter poder único, tentou controlar suas criaturas humanas por proibi-las de comer do fruto da Árvore do Conhecimento’. Aqui, preciso voltar ao livro de Dr. Meyers, The Secret Teachings of Jesus, vindo do evangelho, o Livro Secreto de João. Aquele que conhecemos como Jesus, o Salvador, está ensinando a seu discípulo:
‘Então Sophia, sabedoria da reflexão, invisível espírito do conhecimento e representante de um reino eterno, concebeu um pensamento. Teve uma idéia e também refletiu sobre ela. Quis parir um ser como ela... Porém, o que surgiu era imperfeito e diferente dela em aparência, por tê-lo concebido sem aquele que a amava. Ele não parecia sua mãe, tinha uma forma diferente... Ela então se separou dele, deixou-o fora daquele reino, para que assim os Imortais não pudessem vê-lo, por ela tê-lo criado em ignorância. Ele foi circundado por uma nuvem brilhante, e no meio desta, foi posto um trono, exceto para o Espírito Santo, que é chamado de Mãe da Existência. Ela chamou seu filho de Yaldaboath, e este foi o primeiro dirigente a receber grande poder de sua mãe... Este líder sombrio tinha outros dois nomes: Saklas era o segundo. Samael o terceiro. É perverso, pela ignorância que o habita, quando disse, ‘Sou eu Deus e não há outro igual a Mim’. O senhor continuou a falar para João – Aquele que foi arrogante tomou o poder de sua Mãe; ele era ignorante, por ter pensado que não havia outro poder que não fosse o Dela. Ele observou a multidão de anjos que tinha criado e exaltou a si sobre eles’.
No The Gnostic Gospels, Elaine Pagels escreve, “De acordo com a Hipóstase dos Arcontes, descoberta em Nag Hammadi, tanto a Mãe como sua Filha relutaram quando ‘Ele tornou-se arrogante, dizendo ‘Sou eu Deus, e não há outro além de mim’... E uma voz veio de cima, do Reino do Poder Absoluto, dizendo ‘Você está errado, Samael (que significa ‘Deus dos Cegos’). E ele disse, ‘Se outro coisa existe antes de mim, deixe que isso apareça!’. E imediatamente, Sophia (‘Sabedoria’) estirou seu dedo e introduziu luz em matéria, buscando-a dentro da região do Caos... E ele disse outra vez à sua cria, ‘Sou o Deus de tudo’. E a Vida, filha da Sabedoria, chorou e disse a ele, ‘Saklas, você está errado!’”.
Então, respondendo a questão, é a esse Deus que me refiro em God. Não estou me referindo ao Pai Divino de Jesus, chamado de ‘Pai Sagrado, a mais perfeita das Previsões, a imagem do Invisível, ou seja, o Pai de tudo, através dele tudo vem à vida, A Primeira Humanidade’, de novo citando Meyers. Nesta tradução, Jesus freqüentemente refere-se a si como o ‘Filho da Humanidade’”.
(Song canvas, Piece by Piece)

Sweet The Sting

Esta canção parece ser muito especial para Tori. Em algumas entrevistas, Mrs. T já expressou que ela representa o Hiero Gamus, o Casamento Sagrado entre o Profano e o Divino, o corpo e a alma. Algo como juntar as duas Marias (Maria mãe de Jesus e Maria Madalena), temática circulante pelo álbum todo. Tori inclusive diz que essa busca de unidade na dualidade, orientada não pelo pecado, mas pela “sin-sualidade”, foi a grande semente do Beekeeper.
No livreto que acompanha “A Piano: The Collection”, quando discutia a canção, fica explícito que um dos objetivos de Amos era criar uma imagem triangular sônica, através da união de três elementos: O órgão Hammond, o Coral Gospel e a Percussão Afro-cubana. 3 (três) é um número completamente arraigado em diferentes tradições religiosas, a exemplo da Santíssima Trindade Cristã, e ele sugere iluminação e alcance espiritual.
Para completar, no Piece by Piece, há uma divertida história de amor sobre o Hammond B3 de Tori, que, de algum modo, influenciou Sweet the Sting:

“Toda vez que entrava no quarto pela manhã, para minha prática diária, Big Momma (nome do órgão) estava murmurando. De fato, a entrada de energia dela tinha ficado ligada, mas falo do tipo de murmúrio perceptível numa namorada depois de uma noite romântica. Significa que Big Momma tem um namorado. Outro órgão, especificamente um B3... Este romance remete-me à história de dois organistas-B3, uma mulher e um homem, envolvidos numa dança erótica que gira em torno da tentativa de ambos em impressionar ao outro, por suas habilidades ao tocarem seu próprio instrumento”. (Song canvas, Piece by Piece)

Parasol

“Às vezes quando estou caçando canções, fico quieta e compreendo que na ‘vida real’ posso me sentir caçada também. ‘Parasol’ surgiu desta sensação. As letras e música estão completas, o arranjo está bem próximo. E eu fico observando a pintura que me alcançou umas poucas semanas atrás, vinda de um livro de arte, e me puxou para dentro da própria imagem. Seated Woman with a parasol tornou-se minha protetora e ainda o é durante tempos de grande confronto – não importando se a fonte dessa energia devoradora vem de dentro ou de fora. ‘Parasol’ é minha amiga e confio nela. (...) A pintura Seated Woman... por Georges-Pierre Seurat é um estudo de outra pintura dele, La Grande Jatte. Encontrei-me encarando a mulher sentada com o guarda-sol em outra pintura, também de Seurat, entitulada A Sunday on La Grande Jatte (Detalhe: Mulher e criança)”. (Song canvas, Piece by Piece)


Por Hernando Neto

sábado, 20 de março de 2010

Tradução: To Venus And Back


"To Venus and Back" é um disco quase transitório na carreira de Tori, uma vez que serviu de acompanhamento para o primeiro registro ao vivo da artista. No entanto, sua natureza etérea e "densamente suave" lhe garantem uma marca original na discografia de Amos, trazendo consigo ainda alguns dos clássicos da cantora, como Bliss, Suede, 1000 Oceans e a alucinógena Dátura. Esperamos que gostem das traduções e apontem equívocos que tenha passado despercebidos; será um prazer lhes escutar.
Agora, as traduções!


BLISS (BENÇÃO)

Pai – eu matei meu macaco
Deixei-o solto para provar da doçura da primavera
Pergunto-me se vagarei por aí
Testo meu cabresto para ver se ainda estou livre de você

Firme, à medida que isso se aproxima de você
Eu já disse tudo!
Então talvez sejamos uma benção
De outra natureza
Eu disse,
Uma benção
De outra natureza

Ultimamente,
Estive num circuito
O que deve significar
"Feita de você, mesmo não lhe sendo suficiente"
E me pergunto se você consegue se dividir em dois¹
É desse sabor que provarei?
O suco da sua Supernova
Você sabe que é verdade...
Sou parte de você

Firme, à medida que isso se aproxima de você
Eu já disse tudo!
Então talvez sejamos uma benção
De outra natureza, eu disse...

Firme, à medida que isso se aproxima de você
Eu já disse tudo!
Então talvez você seja uma motor de 4 cavalos
Com um power drive, eu disse
Um espírito² ardente que quer possuir o meu – eu disse
Então tome isso com o suicídio da sua terra!

Firme, à medida que isso se aproxima de você
Eu já disse tudo!
Então talvez sejamos uma benção
De outra natureza, eu disse...
Uma benção de outra natureza, eu disse...
Uma benção, uma benção...
De outra natureza

¹ Bilocate: ato sobrenatural de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Nos homens é dito acontecer através do poder de Deus, tipicamente para realizar a conversão e batizar aqueles que são merecedores e que não serão alcançados em tempo por missionários.

² Kachina: espíritos ancestrais adorados pelos Pueblos/Um dançarino mascarado capaz de incorporar um espírito particular durante cerimônias religiosas/Uma boneca esculpida nos trajes de um espírito em particular, geralmente presenteado a crianças.

JUÁREZ

Atirada do precipício novamente, em Juárez
"Nem ouse piscar os olhos se a águia cantar",
Diz o cara de rastafári
Pois o Deserto gosta da carne de jovens garotas e...

Nenhum anjo veio
Nenhum anjo veio

Não acho que você saiba das coisas que pensou ter dito
Então vá em frente e jogue sua semente,
Aponte sua arma para a cabeça do rastafári
Pois o Deserto – ela deve ser abençoada e...

Nenhum anjo veio
Nenhum anjo veio
(Escute, querida)
Nenhum anjo veio
Nenhum anjo veio

Há um momento de prosseguir,
E outro de manter em segredo
Ao índio se diz que o cowboy é seu amigo
Há um momento de prosseguir,
E outro de manter em segredo
Ao índio se diz que o cowboy é seu amigo
Você sabe que consigo respirar
Mesmo quando estou trapaceando,
Deveria ter sido o fim para mim...

Nenhum anjo veio
Nenhum anjo veio
Nenhum anjo veio
(Escute, querida)
Nenhum anjo veio
Nenhum anjo veio...

Nenhum anjo veio

CONCERTINA¹

Nuvens descendo...
Não estou policiando o que você pensa ou sonha
Do outro lado do salão, invado seu pensamento
Só um novo truque,
Consigo sobreviver a isso?
Tenho uma febre acima da minha cintura
E você um acordeão sobre os joelhos
Eu sei que a verdade está entre
A primeira e a quadragésima dose de bebida

Concertina, Concertina
Calafrio que arrepia
Juro ser esta a calma mais feroz que já senti
Concertina, Concertina
Tente o infravermelho
Juro ser esta a calma mais feroz que já senti

O terremoto de almas ocorreu aqui,
Num mundo de vidro
Partícula por partícula, ela lentamente se transforma
E gosta de pendurar dobraduras chinesas
Só mais um conserto,
Consigo sobreviver a isso?
Cada partícula minha está inclinada a jogar
E existe um charco na sua paisagem
Daí me deparo com sua prudência extasiada...
O atrevimento sem a culpa

Concertina, Concertina
Calafrio que arrepia
Juro ser esta a calma mais feroz que já senti
Concertina, Concertina
Tente o infravermelho
Juro ser esta a calma mais feroz que já senti

Muito longe, muito longe, muito longe
Tudo podia ter sido tão divertido...
Tenho uma febre acima da minha cintura
E você um acordeão sobre os joelhos
Eu sei que a verdade está entre
A primeira e a quadragésima dose de bebida

Concertina, Concertina
Calafrio que arrepia
Juro ser esta a calma mais feroz que já senti
Concertina, Concertina
Tente o infravermelho
Juro ser esta a calma mais feroz que já senti

Nuvens descendo...

¹ Creio que nessa canção Concertina seja referência a um tipo de sanfona, o acordeão diatônico. Para ler sobre ele, clique aqui.

GLORY OF THE 80's (A GLÓRIA DOS ANOS 80)

Tomei um táxi de Los Angeles para Vênus em 1985
Fui sugada eletromagneticamente a uma festa que rolava naquela noite
Era a glória dos anos 80, com karmas redigidos em linhas
E dois/duas modelos da bugle boy¹ dizendo,
"A entrada é franca, baby, você parece mesmo ser pobre"

Eu tinha o livro Histoire d'O² no assento do meu "quase Mustang"
Participando de uma audição para répteis,
Na campanha de Rachel Welsh
Nas glórias dos anos 80, você disse,
"Não tenho medo de morrer"
Não vi muita graça nisso,
Mesmo depois de comer um space cake³

E quando tudo parecia estar claro,
Você simplesmente vai e desaparece

"Barbies" baladeiras e siliconadas para a esquerda
E as "Joanas D'Arc" para a direita
Ninguém se sentia inseguro,
Éramos todos bonitos e famosos nas nossas vidas passadas
Nas glórias dos anos 80, você disse,
"O fim não precisa ser temido"
"Dane-se o fim, baby!", eu disse
"Com quem tenho de transar para sair daqui?!"

E quando tudo parecia estar claro,
Você simplesmente vai e desaparece

Certa de que você está aí fora, orbitando
Queria tê-lo de volta, agora

Conheci uma 'Drag King' chamada Vênus
Ela tinha um holograma de veludo, e disse,
"Meu marido fugiu com meu shaman, mas eles me amam pelo que sou"
Nas glórias dos anos 80,
Talvez eu não tenha medo de morrer
Clonarei a mim mesma,
Como aquela garota loira que canta "Bette Davis Eyes"

E quando tudo parece estar claro,
Você simplesmente vai e...

Certa de que você está aí fora, orbitando
Queria tê-lo de volta, agora

E quando tudo parece estar claro,
Você simplesmente vai e desaparece

Eu peguei um táxi de Los Angeles para Vênus em 1985

¹ "Bugle Boy" foi uma marca de jeans muito famosa nos EUA, durante os anos 80.

² Romance erótico publicado em 1954, sobre dominância e submissão, pela autora francesa Anne Desclos, sob o codinome Pauline Réage.

³ Space Cake é um bolinho feito com maconha.

LUST (LUXÚRIA)

Ei, você
Gênero Néctar
Filtrando através do grão de ouro
Tropeçando em sua porta
É você,
O alfa em seu sangue?
E quando a mulher mente,
Nela você não acredita

Girando e se desenrolando
Serpenteando e emergindo
Correndo livremente,
Cruzando o submundo
Até o quarto dela

Ele é real,
Ou uma ilusão-fantasma?
Ela sente que não é ouvida
E o véu se rasga em fúria,
Até que as vozes dela sejam lembradas
E os segredos dele possam ser revelados

(Lembre-se, lembre-se)

Ei, você,
Gênero Néctar
Cristalino da videira
Você sabe que dela beberá

Girando e se desenrolando
Serpenteando e emergindo
Correndo livremente,
Cruzando o outro mundo
Até o quarto dela

Então ela pede por alguém travesso
E por luxúria no leito de núpcias
E ele espera até que ela possa conceder
E ele espera... Ele espera

SUEDE (CAMURÇA)

Camurça

Sua pele sempre pareceu camurça
Há dias em que sinto seu par,
(Peekaboo¹)
Escondido dentro de você
E jatos estão acelerando
Sim, acelerando de uma fonte central
E isso tem poder sobre mim
Não por você sentir ou não sentir algo por mim
Mas por –
Uma massa tão grande
Capaz de engolir a estrela dela intacta

Rotule-me de má, de "a maré está a seu lado"
Do que você quiser me chamar
Todos sabem que você é capaz
De conjurar qualquer coisa pelo lado escuro da lua, garoto
E se você mantiver seu silenciador do silêncio ligado,
Dará instruções a si próprio para uma tarefa
Fora de um buraco,
Para dentro de meu riacho

Camurça

Estou certa de que você foi instruído
Minhas linhas de absorção estão gastas,
E temo que meu medo seja maior que minha fé
Mesmo assim, percorro o caminho missionário
Sua pele sempre pareceu camurça
Há dias em que sinto seu par,
(Peekaboo)
Escondido dentro de você
E Jatos estão acelerando
Sim, acelerando de um redemoinho de éter

Rotule-me de má, de "a maré está a seu lado"
Do que você quiser me chamar
Todos sabem que você é capaz
De conjurar qualquer coisa pelo lado escuro da lua, garoto
E se você mantiver seu silenciador do silêncio ligado,
Dará instruções a si próprio para uma tarefa
Fora de um buraco,
Para dentro de meu riacho

Camurça

Oh, irmãzinha, espero que você não tenha se sentido desse jeito
Estou feliz que você veio, e disse
“Eu esperava que você não se sentisse desse jeito,
Novamente”, quando digo
Oh, irmãzinha, espero que você não tenha se sentido desse jeito
Ainda estou feliz por ter vindo, e disse
Eu queria que você não se sentisse daquele jeito
(Garotinha, eu faria o mesmo)
Esperava que você não se sentisse desse jeito
Eu disse que queria...
Irmãzinha, você me perdoará, um dia
Você me perdoará, um dia

Camurça

¹ Brincadeira para assustar pequenas crianças. A pessoa esconde a face com as mãos e a revela de repente (seria como brincar de fazer careta com bebês).

JOSEPHINE

Não esta noite, Josephine
Na força de um exército está a solução
Olhando daqui, você me assombra
Às margens do Sena¹, tão bonito
Para ser somente inútil
Impossível...
Impossível

Tão estranha, Vitória
1.200 torres e o único som –
Moscou queimando
Vazio como o Palácio de Tuileries²
Como num sonho, Viena parece
Não ser somente inútil
Impossível...
Impossível

Na outra extremidade,
"Avançar ou não avançar",
Escuto você rindo

Mesmo assim, você ainda me chama
"Não esta noite... Não esta noite...
Não esta noite, Josephine"

¹ Rio Francês.

² Palácio real parisiense.

RIOT POOF (REVOLTA BICHA)

Rompa o terror
Rompa o terror
Rompa o terror
Do feitiço urbano

Você sabe do que sabe
Então vai, e rompe o terror do feitiço urbano
Essa aliança, você diz,
“Estou na soleira da grandeza, garota”
Então você queima seu pagode¹,
Através do Congo
Onde há um laço rompido
Na origem da busca, white trash²
Meu filho nativo

O tempo faz tudo encontrar seu caminho...
O tempo faz tudo encontrar seu caminho

Floresça, Revolta Bicha!
Floresça, Revolta Bicha!

Você sabe o que sabe
Então vai, e a acorrenta em seus fluídos
Ela morde e transpassa sua carne magra e seca,
Enquanto está indo ao Movie Show
Numa banheira de purpurina, sentindo um pequeno arrepio,
Ela rasteja pelo seu mar de Java
Saara negro,
Estou adentrando em sua excentricidade do espaço³

O tempo faz tudo encontrar seu caminho...
O tempo faz tudo encontrar seu caminho

Floresça, Revolta Bicha!
Floresça, Revolta Bicha!

O sol está esquentando,
Meu homem está ficando molhado
(No laço, na bomba)
O sol está esquentando,
Meu homem está ficando molhado
(No laço, na bomba)
O sol está esquentando,
Meu homem está ficando molhado
(No laço, na bomba)

Na bomba, no laço, na bomba

¹ Pagode é uma torre piramidal com várias calhas comum na Ásia, destinada à adoração e práticas religiosas, como no Budismo (Fonte: Wikipédia).

² White trash: é uma expressão norte-americana e pejorativa usada para "pessoas brancas de baixo estatuto social, poucas perspectivas de vida e formação. Empregar esse termo a uma pessoa branca é chamá-la de economica e culturalmente nula." (Fonte: Wikipédia)

³ Space oddity: é uma incrível canção de David Bowie, da fase em que ela encarnou o alienígena Ziggy Stardust. Nesta época, Bowie trabalhou substancialmente uma caracterização andrógina, o que vem a calhar com o imagiário dessa canção.

DATURA (ERVA-DO-DIABO)

Nota: Nem todas as plantas citadas por Tori são nativas em nosso país, o que cria uma certa dificuldade para saber quais seriam seus nomes populares. Nesses casos, foram mantidas as expressões originais acompanhadas de nomes que estejam relacionados às plantas, na língua portuguesa.


Saia do meu jardim!

Maracujá
Folha-de-prata
Sálvia "Indigo Spires"
Jasmin Estrelado
Bela-Emília
Palmeira
Tamareira-anã
Neve-da-montanha
Caliandra-rosa
Erva-do-diabo
Lírio-rajado
Cebola-cencê
Eucalipto "Silver Dollar"
Moreia Branca
Ruélia "Katie's Charm"
Gengibre-concha
Zâmia da Flórida
Erva-do-diabo
Chá verde
Samambaia
Lírio azul
Íris-caminhante
Alamanda
Laurotino "awabuki"


Há espaço no meu coração
Para você seguir o seu coração?
Para que não precisemos de mais sangue
Da ponta de sua estrela?

Saia do meu jardim!

Íris-caminhante
Alamanda
Laurotino "awabuki"
Ameixa-de-natal
Dracena-vermelha
Sálvia-do-México
Nó-de-porco
Camarão-amarelo
Camarão-vermelho
Cássia-amarela
Sabicú
Chuva-de-ouro
Ipê-amarelo-cascudo
Ave-do-paraíso

(entre)
Gengibre-concha
Erva-do-diabo
Madressilva-de-trombeta
Gengibre-barbado
Xanadú
Hibisco
Frangipana (Árvore-pagode)
Coração-sangrento
Escudo-persa
Chá-de-Java
Palmeira-imperial
Álisso
Bambu
Murta-de-cheiro
Ervilha borboleta
Jasmim da China
Erva-do-diabo
Frangipana (Árvore-pagode)
Frangipana (Árvore-pagode)


Dividindo Canaã,
Pedaço por pedaço
Deixe-me ver
Dividindo Canaã

SPRING HAZE (NEBLINA DA PRIMAVERA)

Bem, eu sei que é apenas uma neblina de primavera
Mas eu não gosto muito de seu aspecto
E se presságios são enviados por Deus, assim como homens
Vindo suave e rapidamente...

Decerto essas nuvens vão a algum lugar
Ondeando para algum lugar

Voando num monomotor da Cessna¹,
Você diz que jamais chegaremos ao destino
Então tudo o que fazemos é circulá-la

Uh Oh, vá embora, saia do meu caminho
Esse eterno insuficiente que passou despercebido
Uh Oh, muito bem! Então eu sou acertada²...
Esperando pelo Domingo para me afogar
Uh Oh, muito bem!
Esperando pelo domingo...
Esperando pelo domingo para pousar
Uh Oh, muito bem!
Esperando pelo domingo...
Esperando pelo domingo para me afogar

Sim, eu sei que é apenas uma neblina de primavera
Mas eu não gosto muito de seu aspecto
E tudo o que fazemos é circulá-la
E descobri onde fica meu limite
Ele sangra aonde sua resistência persiste
E meu único caminho, única saída, é ir
Cada vez mais fundo...

Ondeando para algum lugar
Ondeando, Luna Riviera
Ondeando para algum lugar...

Uh Oh, vá embora, saia do meu caminho
Esse eterno insuficiente que passou despercebido
Liberte-se, e se eu for de fato acertada
(Estarei) Esperando pelo domingo para afogar
Esperando pelo domingo para afogar

Por que isso sempre acaba assim?
Por que isso sempre acaba assim?
Por que isso sempre acaba assim?!

Vá embora, Uh Oh, saia do meu caminho
Esse eterno insuficiente que passou despercebido
Liberte-se, muito bem!
Então eu sou acertada
Esperando pelo domingo para afogar
Uh Oh, esperando...
Esperando pelo domingo
Esperando pelo domingo para pousar
Uh Oh, esperando...
Esperando pelo domingo
Esperando pelo domingo para afogar
Esperando pelo domingo para afogar!

Esperando pelo domingo,
Esperando para pousar
Uh Oh, então se eu for de fato acertada
Espero pelo domingo para afogar...

¹ Companhia de aviação.

² "To Get Creamed" é uma expressão que significa tanto ser completamente abatido como ter um orgasmo inesperado. Creio que esse duplo sentido tenha ressonância na música, e por isso escolhi usar o verbo "acertar" para tratar dessa dubiedade.

1000 OCEANS (1000 OCEANOS)

Essas lágrimas que chorei,
Chorei mil oceanos
E tenho a impressão de estar flutuando
Num poço de escuridão
Não posso acreditar que lhe impedi
Impedi-lhe de voar...
E eu chorarei mais mil
Se for isso o necessário para navegarmos de volta para casa

Estou ciente de quais são as regras
Mas você sabe que eu correrei
Você sabe que eu lhe seguirei
Até Silbury Hill¹,
Através do campo solar
Você sabe que eu lhe seguirei

E se lhe encontrar,
Você ainda se lembrará
Das brincadeiras nos trens?
Ou aquela bolinha azul simplesmente se findou?

Até Silbury Hill¹,
Através do campo solar
Você sabe que eu lhe seguirei
Estou ciente de quais são as regras
Mas você sabe que eu correrei
Você sabe que eu lhe seguirei

Essas lágrimas que chorei,
Chorei mil oceanos
E tenho a impressão de estar flutuando
Num poço de escuridão
Não posso acreditar que lhe impedi
Impedi-lhe de voar...
E eu chorarei mais mil
Se for isso o necessário para navegarmos de volta para casa
Navegarmos de volta para casa
Navegarmos de volta para casa
Navegarmos...
Navegarmos de volta para casa

¹ Colina de 40 metros de altura feita pelo homem, localizada em Wiltshire, na Inglaterra.


Tradução e agradecimentos: Solano Ribeiro e Hernando Neto

quinta-feira, 11 de março de 2010

Acoustically Attracted to Sin [Áudio]


A pedidos, o áudio do Acoustically Attracted to Sin.