segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Flavors: Little Earthquakes (I)

Como vocês sabem, começamos nossa série Flavors com um texto lindo sobre o Scarlet's Walk, e agora damos continuidade com um relato apaixonado sobre o Little Earthquakes, por Tonny Aranha (facebook). Nele, lemos sobre a surpresa de descobrir Tori Amos; uma surpresa que não acontece com todos que a ouvem pela primeira vez, mas que certamente aconteceu para quem teve depois vontade de conhecê-la mais e mais! Boa leitura ^^


Oh, these little earthquakes...

Minha primeira experiência com Little Earthquakes – que sem demasia alguma considero o melhor álbum feminino já feito – é muito mais que somente musical; ele fez (e ainda faz) parte de uma incrível época da minha vida, que se define em eras desde que o conheci: as pré e pós-Tori Amos e seus “pequenos terremotos” (que de pequenos não tem nada), e também foi responsável por me fazer gostar da moça dos cabelos cor de fogo com atitude explosiva ao piano, e suas espantosas letras acerca de conturbados temas, como sexo, religião e tragédia pessoal – o que foi a sua marca registrada durante um longo período.

Em meados de 2010, precisamente em maio, conheci Tori. Tinha acabado de fazer 16 anos, e já tinha ouvido falar dela em algum lugar, mas só de nome. Estava cessado de meu fanatismo em Alanis Morissette e do marasmo mainstream da música na época. Comecei a buscar artistas que se encaixassem com o que eu estava à procura naquele momento: agitação; algo que apaziguasse meu tédio. Eis que recorro à tão-falada rede social que eu havia criado há algum tempo, mas não usava regularmente: o Last.fm.

Lembro que em um dos meus primeiros usos imprudentes, fui escutar a rádio do site, onde ele te fornece uma playlist com músicas de acordo com seu gosto musical. Durante a execução dessa rádio, eis que me é apresentada Bouncing Off Clouds – e foi paixão à primeira vista. Procurei por ela apenas com o nome “Bouncing”, o que ficou em mente. Vasculhei a internet quase que inteira e nada. Resolvi baixar alguma canção aleatória, e fiz o download de Silent All These Years, via torrent.

No começo essa música me causou certa estranheza, porque havia achado meio vagarosa – e Tori também não fazia o estereótipo de artista que me agradava – mas tinha um refrão contagiante, e isso fez com que crescesse mais e mais a cada execução. Logo, baixei o disco completo. Ao escutar os primeiros e angustiantes versos de Crucify, senti como se todo o meu fôlego tivesse sido tirado, e, ao final, devolvido bruscamente ao meu corpo; mas também trouxe certo alívio, como se eu tivesse passado por uma terapia de divã, e ali, posto pra fora todas as lamúrias e dores que me afligiam. Nunca havia sentido identificação tão grande. Estava fora de minhas zonas de conforto, e acabara de adentrar nas conturbadíssimas de Mrs. Amos.

A dualidade sensorial das músicas de Tori em Little Earthquakes é impressionante, pois te leva a lugares e momentos que você não só se identifica, mas se machuca, também. Nos leva a conceber que a vida não é feita só de eventos bons (pelo contrário), e que as dificuldades estão aí, em nossas faces; mais importante, que devemos lidar com elas, não tentar ignorá-las. Basicamente o que Tori mostra é que se não expurgamos nossos demônios, eles tomam conta de nós.

Suas canções poderiam muito bem ser interpretadas como somente deprimentes, mas quando você escuta qualquer música desse disco, ao mesmo tempo em que a exposição de sentimentos dolorosos pode lhe trazer duras lembranças, sempre consegue criar ao final uma espécie de alívio, um efeito terapêutico indescritível.

E a postura de Tori nesse álbum é de deixar qualquer um pasmo; ela foi verdadeiramente uma artista ao expor suas dores, mágoas e situações de tragédia pessoal publicamente, e ainda conseguiu ir além: transformou momentos tão pungentes de sua vida em belíssimos registros musicais, com interpretações viscerais, de fazer cair os queixos de quem ousar subestimar seu talento. O disco também mudou minhas perspectivas musicais, pois não costumava ver o piano de forma tão atrativa antes de escutá-lo.

Em suma, nenhum adjetivo no mundo seria suficiente para descrever o que esse álbum me representa e faz sentir, o valor sentimental que nutro por ele é inestimável. Esteve presente em várias fases da minha vida, desde paixonites de colégio até frequentes conflitos existenciais. Considero-me alguém bastante sortudo por ter conhecido um artista com quem me identifique tanto feito Tori Amos, porque desconheço qualquer outro no mundo que sintetize tão bem emoções e sentimentos como ela... Algo bastante evidente em sua primeira grande obra-prima, Little Earthquakes.

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"Tonny Aranha" é o pseudônimo criado pela mãe do pequeno garoto Antonio Tavares Aranha Neto, enquanto ainda era um grande aspirante a desenhista, na infância. Tem 18 anos e cursa o 4º período de jornalismo no Centro Universitário do Norte (Uninorte), em Manaus. Gosta de escrever sobre música, escutá-la, e, se possível, fazê-la. Você nunca ouviu falar dele antes. E possivelmente nem vai. Um sonhador.


2 comentários:

Não Convencional disse...

ótima "resenha" parabéns...

Hernando Neto disse...

Amanhã tem mais, e será do Boys For Pele :D