terça-feira, 30 de outubro de 2012

Flavors: To Venus And Back

Agora, chegou a vez de revisitar o To Venus And Back na série Flavors. Danilo Pontes (facebook), responsável por nos apresentar o álbum, o fez de forma extremamente sutil e etérea, construindo sua imagem com recortes de pensamentos, sentimentos, diálogos e uma certa ausência, uma ausência que vem e vai em suas palavras. Tudo isso é o Venus. São essas as emoções que provavelmente vão lhe acometer se visitá-lo, e dele voltar. Ou não voltar...




Ok, abri os olhos e estava no terraço do meu apartamento olhando para o chão, e tenho... Bem... Medo de altura. É mais ou menos por aí que quero começar a contar o que sinto quando ouço o Venus. Acabei de perder contato com alguém que significou muito e bem... Podemos dizer que tentativas de controle e vampirismos eram inclusos no pacote, mas ainda não sabia como seria possível sair de círculos viciosos tão rapidamente, como transcender e ver o mundo com outros olhos, fora de órbita.

Então seguindo o fluxo constante da vida e conversando com amigos eu percebi que o assunto era sempre sobre mim e como me sentia. As pessoas puxavam conversas e assuntos no qual eu sempre acabava conduzindo ao mesmo final: qualquer complemento que envolvia meus discursos e o que eu posso fazer pra contribuir, mexer, sentir, interferir... Pessoas conhecidas que eu sentia a imensa vontade de agradar e fazê-las sentirem-se bem ao meu lado. Pra quê? Hora ou outra estaremos instáveis de novo e não vai ter muito que se fazer a respeito.



Agora admito que embora não entenda minha necessidade de interferir e ser interferido, controlar e ser controlado, eu nunca acreditei que dentro de um relacionamento, no qual o amor foi o motivo da união a priori, pudesse existir tanta sede de poder e controle. E a sedução da coisa toda, como isso queima e como é bom queimar, porém queimei tanto que me perdi de mim mesmo. Não faço ideia de quem habita esse corpo, se fui feito híbrido de fato ou se eu próprio tenho algo a acrescentar, algo relevante. Não sei!

A resposta apareceu depois de muitos choros e frustrações numa epifania que vem se estendendo nos últimos meses: Eu. Preciso me conhecer e permitir que isso aconteça. O que vem sendo um desafio até então, milhares de pensamentos e hábitos já esquecidos a tempos transbordam em momentos mais surpreendentes possíveis desde que comecei a me aprofundar melhor no Venus e... um... Senti-lo.

Piece by piece, eu vou aprendendo como aprender.

Arredores de BH por volta das 22h:

Viajando sozinho de ônibus numa quinta feira tanto quanto corrida. Perdi boa parte de um entretenimento pessoal um tanto quanto necessário. Por sorte consegui salvar um ingrediente no fundo do bolso esquerdo para executar um feitiço assim que o ônibus fizesse a próxima parada para a janta.

Pois bem, desci e fiz um feitiço improvisado que deu certo.

Logo em seguida, já estava em minha poltrona, quando repentinamente avistei um cachorro faminto e peludo, um membro em potencial da TV colosso, ele pedia comida e as pessoas o ignoravam e expressavam asco e repulsa.

Devo dizer que entre humanos e animais não vejo a menor diferença, é estranho ver esse tipo de intolerância se manifestar em seres ditos inferiores.

Automaticamente lembrei-me do Alceu. Ele que dividira da mesma afeição e indignação a situações como esta, está agora à milhas de distância, incomunicável.

Uma saudade rancorosa subiu o ônibus e se apresentou como nova passageira. Era peluda e possuía um nariz protuberante. Sentou-se ao meu lado e então começamos a conversar:



-E quanto tempo te castigas?
-Desde que ele se foi.
-E quanto tempo o castigas?
-Não hei de saber, desde muito tempo.

Às vezes esperam no mesmo ponto
às vezes viajam juntos

Mas como saber qual rumo tomar se minha bússola não te encontra?
Hei de guardar minha alma se um dia nossas ternuras voltem a pernoitar.

Nunca me dei o trabalho de analisar o todo como objeto de estudo, mas linhas e cores formam todo, e pictoricamente falando, vejo uma linha, de mim a você. E ela não se parte. Nunca! Vejo isso em todos os quadros que pinto pra você. O que fazer?

Nada, e faria nada com você o dia todo.

Por que só o que importa é mantê-la constante, mas amar não é isso e violetas... não sei o que sentir com essas cores.

-Sempre penso em ti, além da conta! Nunca gostei de culpa-lo por isso.
-Nem acho que seria exatamente esse o caso!

-Mas é!
-Como assim?

-Por que pensas nele demais, projeta tuas dúvidas e anseios naquela relação tão perfeita e harmônica!
-Não é bem assim, tuas respostas são harmônicas por causa das perguntas dele, tu danças o tango, sente o sabor e isso é harmônico, forte ou fraco, mas harmônico.
-Ele não pode ser sempre um espelho.
-Não!

-E por que acho que é?

-Dividimos laços fortes de solidariedade, principalmente em tempestades.
-E durante a calmaria?
-Temos problemas, vejo linhas separadas em intervalos, e que intervalos tortuosos... às vezes mergulhamos no mesmo aquário e dormimos juntos assistindo aquele filme engraçado do peixe azul com perda de memória recente, até nisso estamos morrendo.
-O que fazer?




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"dividido em dois e mais unidos que nunca, sou eu e vocês."


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