Como vocês bem sabem, já começamos nossa série Flavors (recapitule aqui), e é com satisfação que agora publico o texto de Mariela Simão (facebook) sobre um dos trabalhos mais amados de Tori: Boys For Pele. Preciso admitir o quanto foi prazeroso ler o texto de Mariela, uma vez que ela nos mostra através de sua experiência que neste disco Amos não somente sentia; ela ERA o sentimento, o fogo queimando, até apagar. E reacender, sempre que precisássemos nos esquentar. Sem mais delongas, Boys For Pele.
Uma das minhas primeiras aquisições da Tori, Pele é pra mim uma dor necessária. Quando ouvi pela primeira vez em meados de 2005, gostei, mas não senti o poder que sinto hoje quando eu o escuto. Não sabia ao certo o que significava, qual a mensagem a ser passada, o porquê de seu nome. Sete anos depois eu comecei a entender e este cd se tornou o meu melhor amigo, em todos os momentos.
O disco mais forte de Tori, em minha humilde opinião, é puro fogo. É colocar a mão numa chapa quente e não tirar. É arrancar o band-aid e cutucar a ferida até começar a sangrar novamente. Algumas pessoas são obrigadas a conviver com a dor todos os dias de sua vida. A dor de ser o que é; a dor de uma ferida que não cicatriza; a dor de uma perda. O Pele me ensinou a conviver com essa dor, a fazer dela a minha melhor amiga, minha companheira de todas as horas. Aprendi que, nos momentos que me sentir fraca, cansada, impotente, rejeitada, sozinha, vazia, morta por dentro, eu teria ali 18 amigas dispostas a contar sua história para mim, para me fazer levantar e cutucar a ferida de novo, até atingir um ponto que eu não sentiria mais e não me incomodaria mais. E tenho que dizer que esses momentos foram bem recorrentes nos últimos três anos. Quantas vezes eu quis sumir e bastava apagar a luz, colocar um fone e começar as primeiras notas de Beauty Queen que meu desejo se realizava. Eu sumia, viajava para longe, e só voltava para encarar o mundo no final de Twinkle. Pura magia. Voltava disposta, com força e pronta pra outra.
Pele, acima de tudo, foi trilha sonora das minhas decepções. Com um coração partido, rejeitado, encontrei nesse cd as melhores amigas para conversar sobre isso (a carência de confiança, de interesse de amigos, pessoas próximas para me ouvir fez a minha ligação com esse cd ser muito mais forte, sim). A explosão de Blood Roses, Father Lucifer, Caught a Lite Sneeze me proporciona, sempre, a força movida a raiva para deixar para trás e esquecer. Claro, admito que me tornei muito mais amarga por isso, mas não me arrependo. Eu prefiro ter um coração de pedra que custa a abrir do que um coração mole que é estilhaçado a todo o tempo. Jupiter e Way Down me acalmam após a explosão, mas me fazem enxergar que tudo está acabado. Daí eu chego ao fundo do poço. Quem nunca chorou ao som de Jupiter, durante uma viagem, com a cabeça encostada na janela do ônibus, desejando que a chuva que cai lá fora lave a sua alma e te livre logo dessa dor? Eu já. E várias vezes. Mas a chuva não me atingia e a dor não ia embora. Então elas chegavam. Little Amsterdam, Not the Red Baron, Doughnut Song e Putting the Damage on sentavam ao meu lado, seguravam minha mão e me diziam que estava tudo acabado. Que eu não precisava lutar contra essa dor porque ela não iria sair nunca dali. Que as coisas só iriam voltar a ficar bem se eu aprendesse a dormir e acordar com essa dor, sem querer expulsá-la de mim. E assim que eu aceitava isso; Twinkle se juntava a elas e me dizia: “I can see that star when she twinkles”. Eu realmente podia. E posso.
Para mim, o Pele é assim. Ele vem para te destruir e ao mesmo tempo para fazer acender o fogo que estava apagado dentro de você. Ele não te livra da sua dor, ele simplesmente te transforma na dor, e ela passa a não te incomodar mais. Eu cresci muito com os cds da Tori, mas, sem sombra de dúvidas, o Pele foi o que mais me influenciou. E é o grande amor da minha vida.
Leonina com ascendente em aquário, variando do egocentrismo a destrutividade. Dona de uma aparência que engana muitos, pode parecer dura e forte por fora, mas tem um coração fraco e mole. 22 anos divididos entre fases doces e amargas, com muita música sempre presente. Vive as custas de amores platônicos desde os 12 anos de idade e provavelmente até o momento do último suspiro.
Um comentário:
Ótimo post.
Eu amo esse álbum da Tori
É muito sincero e expressa uma força.
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