Junto com a premiere de Silent All These Years e Gold Dust, foi publicada uma entrevista que a revista RS fez com Tori, e aqui segue a tradução! Nela, Tori fala sobre como foi regravar suas canções com quase 60 músicos no mesmo salão que ela, e ainda sobre as escolhas que teve de tomar durante a organização do álbum. Para ouvir as duas músicas apresentadas e ler o original >>> LINK
"Pareço extrovertida mas sou na verdade muito introvertida", disse Tori Amos num suspiro articulado. Sentada num apartamento Tribeca preenchido de luz, ela explica o porquê de, mesmo depois de uma vida inteira se apresentando ao vivo, foi uma experiência totalmente desesperadora gravar seu novo álbum, Gold Dust (lançamento em outubro, dia 2). O disco – segunda investida de Amos no universo da música clássica, logo depois de Night of Hunters (2011) – funciona como um livro de anotações de toda sua carreira, trazendo canções antigas e favoritas retrabalhadas com a orquestração da Metropole Orchestra.
Revisitar sua discografia não foi o que a intimidou; foi a orquestra em si que a deixou assim durante as gravações, nas quais ela registrou seus vocais em frente aos quase 60 musicistas (com quem Amos se apresentou pela primeira vez em 2010) e a equipe de seu selo (Deutsche Grammophon). "Canto sobre alguns dos momentos mais íntimos da minha vida, muitos deles escritos antes de me casar com Mark (Hawley, também seu engenheiro de som), e ele está lá, e todos sabem disso", disse ela. "Era como entrar num salão cheio de gente e expor seus pensamentos mais íntimos pouco depois de dizer a eles 'Olá'".
Com a premiere de duas canções do álbum – a faixa-título "Gold Dust" (originalmente do "Scarlet's Walk"[2002]) e "Silent All These Years" (de seu impactante debut solo, "Little Earthquakes" [1992]) – Rolling Stone sentou com Amos para discutir as escolhas para o disco e a ideia de revisitar Little Earthquakes 20 anos depois.
RS: Sua voz soa mais forte em muitas das canções do Gold Dust. Isso foi uma reação à orquestra com quem tocou junto, ou por causa de uma possível distância que exista entre você e as canções agora?
Existe uma rigidez no processo. Quando você compôs algo e quer que fique tudo nos conformes, tem de tomar certas decisões sobre como deve realizar a performance. Mas, uma vez que você venha tocando estas canções por 20 anos, você se permite ter certas inflexões. Não é preciso cantar da mesma maneira. Você pode se dar um pouco de liberdade.
RS: Obviamente Gold Dust não é uma compilação de Greatest Hits, mas ele de fato perpassa toda sua carreira. Como você selecionou as canções?
Foi sobre escolher canções que verdadeiramente se prestariam à orquestração. Muitos me alertavam sobre discos de artistas que tinham trabalhado com uma orquestra, e eles sentiam como se algo tivesse sido perdido – diluído, nada foi ganho com a experiência. Pensei, "Temos de reter a essência de quem essas song-girls são". Mas também, precisamos pensar em como criar uma narrativa dentro da qual elas possam viver juntas, harmonicamente. Muito deste processo foi baseado em selecionar canções com conteúdos distintos, mas que pudessem viver neste mundo, fazendo dele um álbum completo.
Algumas outras quiseram vir também, o que nos levou a pensar no tempo. "Hey Jupiter" esteve lá flutuando em volta, mas ela esteve na tour com o quarteto, então um arranjo já existia. E você a verá – ela surgirá ao vivo. Mas não tivemos como conclui-la para ser gravada com a Metropole. Escolhi fazer "Gold Dust" no lugar dela, uma peça bastante complexa. Senti que precisava de algo que funcionasse como título do disco e "comandante" para explicar qual o conceito da obra, dando suporte a todas as outras e tratando o projeto como uma caixa de memórias.
RS: Olhando para o Little Earthquakes e agora, 20 anos depois, retrabalhando canções dele, como sua relação emocional com este disco mudou?
Eu lhe garanto que me relaciono com estas canções até hoje. Na gravação original, eu mal via as músicas tridimensionalmente... Agora esta relação é desencadeada por conta de uma experiência que ressurge na memória, ou uma conversa que tive com alguém. Isso me leva lá imediatamente, e então você pode se aproximar da consciência daquela canção – as song-girls. Para este disco, estas song-girls tem passaportes, já que viajaram pelo mundo. Conheci muita gente, que em troca me contaram suas histórias envolvendo minha música, então cada peça tem infindáveis polaróides ligadas a elas. Foi algo construído com o passar dos anos.
Quando comecei a tocar com a orquestra, passei a ver novas imagens. Um bom exemplo foi o ocorrido com "Winter" (do Little Earthquakes). Não via mais a mim mesma correndo sobre uma colina, mas sim uma imagem de Mark e Tash (filha de Amos, Natashya) em Viena. Ela era uma garotinha, 2 ou 3 anos, e tinha caído no gelo. Ele a pegou enquanto ela chorava por ter machucado seu joelhinho nas calças apertadas que usava. Houve um momento em que Tash pôs sua mão sobre a de seu pai e eu pensei, "Não sou mais a garotinha desta imagem - tudo bem".
RS: Imagino que você tenha ouvido muitas histórias envolvendo as canções que escreveu sobre o estupro. Quais delas vem à sua mente com "Silent All These Years", além da sua própria?
Conheci diferentes mulheres durante os anos, de momentos bem diferentes em suas vidas. Uma que lembro foi uma juíza sofrendo por um relacionamento com violência doméstica. Estava numa encruzilhada por não querer se expor, já que era uma mulher poderosa em sua vida cotidiana, mas continuava envolvida numa relação como esta. Ela sairia durante o dia, deleitando-se sobre como as pessoas a viam – justa e sensata – sendo, porém, injusta consigo mesma em sua vida pessoal. Essa juíza me disse que "Silent All These Years" a estava dando força para fazer mudanças em sua vida.
Anos depois, quando toquei em Israel, estava no banheiro de um aeroporto quando uma mulher do oriente médio me abordou. Ela falou, "não pense que não estamos ouvindo. Passamos sua música às escondidas umas às outras e é algo secreto que nós conhecemos, então não pare". "Silent All These Years" foi uma das canções mencionadas. Nesses momentos, põe-se em perspectiva meu eu de 20 e poucos anos, mais focado nos charts do que no poder da música. Eu não compreendia o valor em minha mente de uma mulher do Oriente Médio me abordando e dizendo: "Não pare".
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