segunda-feira, 24 de setembro de 2012

[Tradução] Boycotting Trends: Review do Gold Dust


O blog Boycotting Trends, especializado em arte, mas escrito por um toriphile convicto, publicou recentemente uma review sobre o Gold Dust. Nela, o autor pondera sobre as expectativas que tinha em relação ao lançamento, e o que considera ter sido lançado de fato. Segue a versão traduzida, e para ler a original, LINK.

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Trailer (aka “plug” sem vergonha): Para celebrar o lançamento de seu novo álbum, Gold Dust, PopMatters apresentará uma série chamada Performer Spotlight mês que vem, editada por Matt Mazur e Joe Vallese, incluindo algumas contribuições suas. Aqui está minha opinião sobre o Gold Dust, enquanto esta série não começa.

Como este novo disco, o segundo pela Deustche Grammophon em apenas um ano, a metamorfose de Amos numa bona fide artista clássica continua em ritmo acelerado. Seu último álbum, o laborioso Night of Hunters, foi um de suas mais refinadas conquistas: uma jornada arrepiante e imersiva, da noite ao amanhecer, e que tomou referências, delicada e dinamicamente, de uma grande variedade de peças clássicas, para formar uma obra com a personalidade de Amos (com personas e mitos, um relacionamento implodido, além da perda e recuperação do poder pessoal). Quando alcançou o Top 10 em três charts da Billboard simultaneamente (Clássico, Alternativo e Rock), o álbum elevou a cantora, nata em desafiar gêneros, ao lugar onde ela sempre deveria ter estado, ao mesmo tempo que os shows - acompanhados do brilhante Apollon Musagéte Quartett, aka a “Posse” Polonesa das Cordas - foram totalmente colossais.

O “momentum” gerado pela grandiosidade do Night of Hunters nos trouxe ao lançamento do Gold Dust, uma disco no qual, após incríveis 20 anos desde o lançamento do Little Earthquakes, encontramos Amos num estado apropriadamente reflexivo, unindo-se à holandesa Metropole Orchestra para regravar quatorze de suas canções em formato orquestral. As origens do projeto remetem a um show em que Tori tocou com esta orquestra, em outubro de 2010, um concerto bem recebido mas que, aparentemente, deixou a própria pianista um pouco desapontada. Com o épico Night of Hunters a seu favor, Amos se sentiu entusiasmada o bastante para assumir uma novo projeto de orientação clássica, quase imediatamente. Os resultados, porém, não são uma unanimidade.

“Os 20 anos servem para celebrar os diferentes momentos existentes - todas as bençãos, os diálogos que ocorreram e inspiraram estas canções”, disse Amos. “Meu relacionamento com todas estas canções mudou com o passar dos anos, e elas mudaram minha vida... [O projeto] não foi sobre capturar o passado; foi sobre compreender que elas tinham uma nova narrativa - 10 ou 20 anos depois de quando foram originalmente gravadas”. Certamente, as 14 faixas perfazem uma cobertura admirável do extenso catálogo de Tori, contendo músicas de todos os seus discos pré-NoH, exceto Y Kant Tori Read (1987), To Venus and Back (1999), Strange Little Girls (2001) e The Beekeeper (2005). Não obstante, a primeira questão a ser levantada sobre a nova coletânea é a escolha de material. Isso porque Amos e John Philip Shenale, responsável por seus arranjos há anos, optaram por incluir canções que, em sua maioria, já tinham cordas nas versões originais: “Winter” (do Little Earthquakes); “Cloud on my Tongue” e “Yes, Anastasia” (apresentada numa versão menor, própria de shows da cantora, o que desapontou um pouco) [Under the Pink]; “Marianne” (Boys for Pele) e “Jackie’s Strength” (from the choirgirl hotel); “Gold Dust” (Scarlet’s Walk); “Girl Disappearing” e “Programmable Soda” (American Doll Posse).

Canções sublimes, cada uma - provedoras de consolo, força, inspiração e até, para alguns de nós, nomes de blog - é sempre bom ouvi-las. Mas a ousada orquestração não consegue acrescentar muito a elas, neste disco. O problema, creio eu, é que Amos e Shenale não se permitiram ir muito longe nas mudanças sobre os arranjos originais de nenhuma dessas faixas, com o resultado de que todas elas assemelham-se bastante às suas versões anteriores. Bem dizer, as canções que realmente se beneficiam com a presença da orquestra são aquelas que não possuem cordas em seu DNA seminal. Aquela que adequadamente abre o disco, a cósmica Flavor (do disco Abnormally Attracted to Sin), é sem dúvidas a minha predileta: a faixa ganha um fluxo belo e sedutor nesta reedição (só uma tristeza: quando Amos canta “Whose God then is God?” não se parece mais com “Who’s got Benny’s God?”). “Precious Things” também adquire peso e conserva sua catarse, através do casamento soberbo da orquestra com a maneira dinâmica e característica de Tori tocar piano (além de um “girrl” bem rosnado na ponte).

De fato, Amos está com a voz em boa forma e há muito momentos tocantes espalhados pelo álbum (“Jackie’s Strenght”, em particular, é de um frescor brilhante, além dos “circles and circles” em “Cloud On My Tongue”). Na maior parte do tempo, porém, ela e Shenale parecem satisfeitos em se manter dentro de uma zona de conforto. Considerando o quanto Amos sempre foi criativa com suas canções ao vivo, e em como foi brilhantemente bem sucedida a injeção de fôlego dada em seu repertório pelo quarteto, ano passado, o “controle” na abordagem aqui é surpreendente. Lembram de Travelogue (2002), extraordinário álbum duplo de Joni Mitchell, uma referência para esforços do tipo “Pop vai à orquestra”, no qual tanto canções clássicas de Mitchell como outras menos conhecidas surgem, de forma renovada, como pequenas opus dinâmicas? Bem, são poucas as faixas de Gold Dust que passaram por acréscimos e transformações dramáticas, em comparação.

Apresentado com o esmero típico, Gold Dust pode ter mais a oferecer a um fã casual de Amos, em detrimento daqueles que já conhecem sua obra intimamente. Se, em última análise, o álbum parece menos essencial do que poderia ter sido, será, sem dúvida, interessante descobrir quais canções Amos escolherá como complemento ao disco, para as apresentações vindouras junto à Metropole. Além disso, talvez estes shows inspirem Tori a criar uma segunda - quem sabe mais radical e assumindo mais riscos - versão do Gold Dust, no futuro. Aproveito a oportunidade pra apresentar uma lista que, humildemente, fiz com canções que adoraria ver neste pretenso projeto: “Etienne,” “Caught A Lite Sneeze,” “Cruel,” “Black Dove (January),” “Liquid Diamonds,” “Merman,” “Never Seen Blue,” “Spring Haze,” “Carbon,” “Barons of Suburbia,” “Mother Revolution,” “The Beekeeper,” “Garlands” e - que entre!- “Datura.”

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