sábado, 29 de setembro de 2012

[Tradução] Entrevista para a Best Fit (Parte I)


O site Best Fit fez uma super entrevista com Tori, na qual faz uma série de perguntas relacionadas a cada faixa do Gold Dust! Como é um material grande, publicarei a primeira parte hoje, deixando a segunda para breve. Nesta porção, podemos ver Tori falando sobre o porquê de Flavor ter entrado no álbum, quais os motivos que a levaram a "decepar" Yes, Anastasia, bem como as lições aprendidas por ela em frente à canção-título do novo álbum! Vale muito a pena!

Para ler a original, é só clicar AQUI! Agradecemos ao Undented por tê-la publicado mais cedo ^^

FAIXA A FAIXA: GOLD DUST, DE TORI AMOS

O tempo pode ser um brincalhão! Num minuto você está ouvindo seu cassette do Little Earthquakes no walkman, enquanto faz seu dever de casa, daí a próxima coisa da qual você toma consciência é de que duas décadas voaram, como num estalo de dedos. Mas veja bem, Tori Amos não fica ponderando para onde os anos foram por estar muito ocupada sendo criativa. E pouco depois de seu soberbo álbum de retorno à forma, Night of Hunters, ela esteve refinando seu reagendado musical para o National Theatre, The Light Princess, com o dramaturgo Sam Adamson, bem como unindo forças com a Metropole Orchestra para o Gold Dust, uma coleção de canções regravadas de seu catálogo. Mas para que ocasião? O aniversário de 20 anos do Little Earthquakes.

Ainda que o marco zero envolva seu primeiro álbum, Amos decidiu lançar luz sobre canções de várias fases de sua carreira, de modo a os únicos álbuns verdadeiramente ignorados terem sido To Venus and Back e The Beekeeper (bem, não há nada também do Strange Little Girls, mas é um disco de covers, certo?). Aqui, ela enfrenta as perguntas da Best Fit sobre cada faixa de Gold Dust e, como já é de praxe para Amos, não se intimida em dar uma resposta elaborada.

FLAVOR

Best Fit: A “Flavor” original em Abnormally Attracted to Sin era muito mais como uma irmã para “Lust”, do To Venus and Back. Você sente uma conexão entre as duas canções?

Amos: Sim, certamente. Acho que Abnormally Attracted to Sin tem muitas conexões com aquele período, do Venus. Então isso faz muito sentido para mim.

Best Fit: foi uma escolha óbvia para o Gold Dust, desde o início?

Amos: “Flavor” deu um passo a frente por todas as razões possíveis. Creio que ela tenha sido um pouco negligenciada em Abnormally. Ela me pegou pela mão e disse: “Eu tenho uma mensagem. As eleições norteamericanas estão chegando, existem tantos sabores e estilos de vida sendo marginalizados. E é difícil saber como as eleições terminarão, mas temos o dever de refletir, como uma sociedade de mente aberta, em como todas as pessoas são exigidas a pagar impostos, mas umas não tem os mesmos direitos que outras – então, algumas pessoas podem se casar e outras não, e ainda assim espera-se que todos nós contribuamos para o governo?” Isso não faz sentido algum para mim. Então é isso aí, “Flavor”! Senti que era importante mostrar isso e também falar sobre a ideia de “whose God, then, is God?” (trecho de Flavor - “O Deus de quem, então, é Deus?”), especialmente com o que tem acontecido recentemente por conta de choques culturais. Mesmo os Estados Unidos, como uma nação, não se mostrando dessa maneira, e eu mesma não me mostrando assim, há pessoas por aí, extremamente organizadas, que querem criar terror e anarquia. A ideia de “whose God spread fear? / whose God spread love?” (“O Deus de quem espalha medo? O Deus de quem espalha amor?”) – bem, muitos dos Deuses estão espalhando medo, é o que me parece. “Flavor” me disse, com convicção: “minha hora é agora”, e foi assim que ela foi escolhida.

YES, ANASTASIA

Best Fit: Vamos falar sobre sua controversa decisão de cortar “Yes, Anastasia” pela metade (a original, do disco Under The Pink tem quase 10 minutos de duração!). Por que, oh, por quê?

Amos: por ser uma colaboração! E é um pouco egoísta dizer “sente aí, enquanto eu faço isso”. Este foi um disco colaborativo, certo? Eles não são somente cordas me dando suporte. É como Fred Astaire e Ginger Rogers. Jules (o maestro Jules Buckley) é de fato meu parceiro de dança, ainda que a orquestra seja uma criatura, entende? Eles são o dragão e ele é o cerébro do dragão... Já eu estou guiando esse dragão. Parece que a outra abordagem seria de virem no momento em que a energia de Prokofiev começa, os Russos surgindo da colina. Gostamos da ideia. Era excitante. Mas você precisa tomar decisões num contexto, e essa canção fechava um álbum, aquele era seu tempo... Já existe! Mas para a orquestra esperar toda a primeira parte, achei que seria um pouco egoísta, para este projeto. Ao vivo teremos outro arranjo mais uma vez, porque... Bem, no estúdio, sem as luzes e o aspecto visual, você precisa enquadrar suas tomadas e edições no orçamento e nos prazos.

Os álbuns tem de ser feito em nome da composição. E então quando você toca ao vivo, por ser ao vivo, e não haver backing vocals cobrindo meus erros ou um tubo de oxigênio no palco – ainda que, talvez, um devesse ficar preso a mim, mas essa é outra conversa – então é preciso delimitar tudo. Diferente de quando estou com a banda e posso olhar para o Matt (Chamberlain, baterista de Tori de longa data), e ele reconhece o olhar de “me dê mais 30 compassos”, e assim conseguimos improvisar. Mas você não faz uma jam session com uma orquestra, o que lhe leva a construir também as improvisações. E “Yes, Anastasia” tem algumas pequenas novidades nela. Para algumas das canções haverá novos arranjos ao vivo. “Flavor” tem uma nova e estupenda introdução. Eu a murmurei no telefone para Philly (John Philip Shenale, o arranjador do álbum), e mesmo rindo de nervoso na cabeça dele, conseguiu produzir exatamente o que tinha lhe murmurado como a melodia introdutória. No disco, se você tem uma intro de 2 a 3 minutos, isso não funciona de fato para uma montagem precisa e focada, mas como a performance ao vivo é algo completamente diferente, trato ambas de forma distinta também.

JACKIE'S STRENGHT

Best Fit: Mesmo From The Choirgirl Hotel alcançando o sexto lugar na parada de álbuns britânica, e o single Spark ter sido um hit de Top20, o lançamento programado de “Jackie's Strenght” como single seguinte acabou sendo cancelado aqui. O que houve?

Amos: Acho que foi só uma mudança administrativa, havia gente saindo e entrando o tempo todo na gravadora e foi um período bem desafiador. Aconteceu assim. Porque as pessoas que realmente entendiam a música e deram apoio a Little Earthquakes e Under The Pink – como Mark Hole – tinham saído. Ele havia ido para a Universal, naquela época. Então creio que, quando você tem pessoas em sua gravadora indo e vindo constantemente, às vezes as decisões acabavam sendo pelos Estados Unidos, desfavorecendo a Europa.

Best Fit: Falando nos EUA, o país também ganhou um lançamento de remixes para Jackie's Strenght. Você se aventuraria novamente na trilha do dance?

Amos: Posso lhe dizer que, creio eu, enquanto conversamos há um remix dance sendo feito. Está em produção, mas não posso dizer nada além disso. É para este disco e será lançado em outubro. É o plano, de qualquer forma. Achei necessário representar também esse lado por conta dos 20 anos, e por terem existido remixes dance de fato.

CLOUD ON MY TONGUE

Best Fit: quais suas memórias em escrever e gravar esta canção em 1993?

Amos: Tinha acabado de voltar de Down Under. Passei um tempo nessa parte do mundo, e acho que isso teve influência. Estava em New Mexico escrevendo para o disco e o deserto também contribuiu com muita coisa. A luz! Foi onde Edith Hamilton e Georgia O'Keefe foram para pintar alguns de seus grandes trabalhos, então a luz sem dúvida teve um efeito. E a grandeza, o céu. Parecia que céu era infinito... Quis incluí-la no Gold Dust por ser uma peça de música meio escanteada, mas com a qual eu cresci. Não selecionei muitas canções com groove, como você mesmo pode ver, por não ser uma banda me acompanhando. Não era o que a colaboração pedia. Mas eu senti que para essas canções possivelmente mais rítmicas, como “God”, “Cornflake Girl”, “Juarez”, “Cruel”... Que elas deveriam ser exploradas com o quarteto (Apollon Musagete, com quem Tori excursionou ano passado), invés.

PRECIOUS THINGS

Best Fit: “Precious Things” é um dos pontos altos do Gold Dust...

Amos: ... bem, ela deu um passo a frente e quis passar por uma completa transformação, estava bem aberta para isso. Já são 20 anos, ela está segura sobre sua identidade e já a toquei com a banda, sozinha e, mais recentemente, com o quarteto. Mas foi um daqueles momentos de “vamos deixá-la sofrer uma grande mudança”.

Best Fit: e uma de suas maiores e mais queridas canções, e acabou nunca se tornando um single. Você considerou lançá-la, naquela época?

Amos: A questão é, quando pessoas escolhem singles... Eu às vezes nem sei porque os escolheram. Creio que escolham tentando satisfazer um formato. O público, no entanto, toma suas próprias decisões, o que é ótimo e muito excitante. Graças a deus eles tem mentalidade própria!

Best Fit: O “Guuuuurl” no meio da canção tornou-se de certa forma icônico para apresentações ao vivo. Parece até que os fãs ficam ansiosos para ouvir você cantando daquela forma, como a fala “Handbag” em The Importance of Being Earnest, de Oscar Wilde...

Amos: [risos] Sobre isso com a orquestra... Espero que as pessoas entendam que esse “Guurl” será um pouco diferente. Porque estou numa soma, lá. E quando você está sozinha, só precisa soltá-lo quando quiser, mas quando se está tocando com outras pessoas é preciso fazer direito, acompanhando de forma adequada. Não há tanta liberdade assim. Estou mais focada em acertar aquela linha de piano com a orquestra e não cair porque eles não param! [risos] Eles continuam!

GOLD DUST

Best Fit: a letra de Gold Dust ressoa com um senso de retrospectiva e de percepção do futuro, para que se evite arrependimentos. Você toma, ou já tentou tomar, algumas precauções para evitar que isso aconteça em sua vida?

Amos: Oh, essa é uma ótima pergunta. E eu não sei se tenho uma boa resposta.

Best Fit: Você tem algum arrependimento sobre o qual se sente a vontade em falar?

Amos: uns poucos. Reagir antes de refletir. Você sabe aquele ditado, “seja esperto, não correto”? Desejei isso algumas vezes, no decorrer dos anos... Mesmo quando provou-se que eu estava certa, a forma como confrontei a situação não foi adequada. Então ok, você estava correta mas deixou a sala destroçada... Creio que em confrontos, uma coisa que aprendi com os anos é a dar um passo para trás e tentar descobrir o porquê de alguém estar exatamente onde está. Tenho certeza que todos nós passamos por isso em nossas vidas. A única coisa que tive de aprender e eu amaria ter aprendido mais cedo e a agir com neutralidade. Agir dessa forma é algo bastante poderoso, ser capaz de se manter neutro, de não responder. Apenas ser hábil para ouvir. Não se sentindo obrigado a ter uma solução, ou tendo de consertar ou defender algo, não importa sobre o que estamos falando – isso se aplica a tudo, confie em mim! Apenas ficar ali, parado, sem reagir. É um estado poderoso e eu lhe digo, ainda tenho problemas em lidar com isso [risos].

(PARTE II EM BREVE)

ps: a foto que ilustra essa postagem veio do site alemão Brigitte Woman (LINK). Há mais fotos, em baixa qualidade, circulando na rede!

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