sexta-feira, 7 de outubro de 2011

[Tradução] Entrevista à CNN

Entrevista por Abbey Goodman para o site da CNN, Tori falou do Night of Hunters e entrou em detalhes interessantes sobre o musical, a ser lançado ano que vem. Usando as metáforas sempre não usuais dela, é mais um material muito interessante que obtivemos do Undented (Thanks, guys!). Veja a tradução logo abaixo.

TORI AMOS: 20 ANOS DEPOIS DE SEU DEBUT SOLO

Tori Amos retorna ao piano para seu mais novo álbum, Night of Hunters.

(CNN) – “Me sinto em casa trabalhando com mitologia”, disse Tori Amos.

Sem brincadeira.

O álbum mais recente de Amos, Night of Hunters, é uma fábula sobre o amor perdido por uma mulher e a jornada emocional dela no curso de uma noite, ajudando-a a se libertar desse homem e a recapturar seu fogo. Durante a jornada, ela conhece uma metamorfa chamada Anabelle que atua como sua guia, auxiliando-a a passar por forças predatórias que existem dentro e em volta de nós.

Enquanto Night of Hunters se usa de temas familiares a Amos, como guias espirituais, elixires mágicos, forças da natureza e clamor pelo poder feminino, fazer este álbum foi uma nova empreitada para ela. Invés do som e da produção eletrônica que marcaram seus últimos lançamentos, ele é mais cru e essencial. Amos retornou ao piano e usou o formato clássico de um ciclo de canção, no qual existe um tema comum para a coleção de canções, e a intenção é que sejam apresentadas em sequência, afim de narrar seu conto sobrenatural.

20 anos depois de seu inovador debut solo, Little Earthquakes, Tori Amos conversou com a CNN sobre a ironia de ser expulsa de uma escola de música clássica, as línguas ferinas e mortais das mulheres e o porquê dela não desejar voltar aos seus 30 anos.

CNN: “Night of Hunters” é um álbum conceitual bastante elaborado. Como a história surgiu, não somente musicalmente, mas em sua própria mente?

Amos: Viajava pela Europa há um ano atrás, e o que comecei a ouvir das pessoas era de como suas vidas podiam mudar em um dia. De fato, este álbum é sobre a experiência psicológica de uma mulher e o despedaçar de um relacionamento. É sobre as importantes descobertas emocionais pelas quais ela passa, do anoitecer ao amanhecer.

Estive trabalhando numa peça para o National Theather por, me parece, uns 5000 anos, mas isso é diferente porque existem cenas com texto. Ciclos de canção funcionam num nível poético, não como uma peça ou um musical. Quis que houvesse neste álbum um nível poético, no qual os poemas ganham vida e emoção, mas o enredo não está necessariamente nas canções por si. Para que um ciclo de canção funcione, você precisa sentir estas coisas quando o ouve e ainda ter uma reação emocional a isso, ou não dá certo. O enredo é algo que vai sendo tecido em união à história de fundo.

Mas quando Deutsche Grammophon me abordou e disse, “Ouvimos falar que você está trabalhando num musical, que tal você produzir um ciclo de canção do século XXI baseado em temas clássicos?” Eu disse, “E se eu não fizesse?”

CNN: Você obviamente aceitou a proposta.

Amos: Sim, mas eu quero dizer, Jesus Cristo, é uma meta difícil!

CNN: Você não foi expulsa do Peabody Conservatory quando tinha 5 anos por ser muito radical e não aderir às normas clássicas deles?

Amos: Sim, isso é meio divertido. É verdade.

CNN: Você não tinha pensado nisso antes?

Amos: Eu pensei, mas é verdade. Fui expulsa por terem pensado que eu não poderia abraçar o caminho da música clássica. O decano que está lá agora procurou por meu pai uns poucos meses atrás, e lhe disse que o Peabody está um local muito, muito diferente para se aprender, comparado a como era nos anos 70. Tinha de mudar mesmo, pois eles nem chegavam perto da abrangência da Deustche Grammophon, e este é um dos maiores pontos da música clássica de todos os tempos.

CNN: O musical do qual você falou para o National Theater é “The Light Princess”, baseado no livro de George MacDonald?

Amos: Era, mas nós o mudamos porque nossa história se tornou muito diferente.

CNN: O que houve? Alguns dos aspectos permaneceram?

Amos: Ela flutua. É sobre isso. Eu não gostava dela no livro. Mesmo. Senti que era a partir de uma perspectiva masculina, e eu não tinha a mínima ideia sobre como ela se sentia por ter uma incrível habilidade, e acabar sendo tratada como se tivesse uma incapacidade. Era muito sob os olhos da força masculina patriarcal e eu nunca tive uma noção dela, seus amigos, sua perspectiva e de como sua vida seria. Então o mundo que construímos é bem diferente.

Os pontos chave são sobre poder, e sobre crescer e entender que existem consequências paras as escolhas que você faz, especialmente quando você é seduzido por este poder.

CNN: Você tem uma filha, Natashya Hawley, que é uma pré-adolescente. O que você fala a ela sobre do que se nutrir e cultivar seus interesses, sendo consciente de seu próprio poder?

Amos: Acho que o fundamental para ela é sua turma de amigas, tema que inspirou parte do musical ao ver o quanto esse grupo é importante nessa idade. Um comentário de uma amiga, especialmente sobre coisas como peso e aparência, sobre como você está, pode ser tão danoso que, como uma mãe às vezes, é necessário pensar, “OK, como eu posso dizer algo para neutralizar o que uma amiga disse com o aparente intuito de machucar?” Tem momentos em que elas querem ferir umas às outras porque você sabe como é com garotas. Eu não sei como funciona, mas elas sabem como esfolar alguém apenas lambendo seus lábios.

CNN: Mas existe também um grande senso de integração que garotas e mulheres demonstram quando não há competição ou ciúmes.

Amos: É verdade. E ainda todas nós alguma vez já olhamos invejosamente para outra pessoa e dissemos, “Bem, estou feliz que as coisas estejam indo bem para eles, mas eu trabalhei tão duro quanto!” Nós todas tivemos aquele momento de, “Sim, estou feliz por ela, mas não seria ótimo se Lady Luck sorrisse para mim também, porque estive trabalhando como um elfo na loja do Papai Noel por anos?”.

CNN: a faixa Carry destaca-se sonicamente porque, mesmo sem saber que ela é a canção que fecha o álbum, é possível sentir de verdade que a aurora está surgindo, e que o todo em sua integridade foi restaurado.

Amos: Espero que mulheres possam sentir isso. Quando o sol se põe, nós todos temos aquelas noites em que questionamos nossas escolhas e para onde nossa vida está indo. Às vezes, parece que estamos mais perto de nossas manicures do que de nossa própria alma. Precisamos encontrar formas de entrar em contato com ela, para ouvi-la, escutá-la.

CNN: São 20 anos desde o lançamento de Little Earthquakes. Você tem quaisquer opiniões ou reflexões distintas sobre ele no momento atual?

Amos: Há 20 anos atrás, não pensava sobre os desafios de autoestima que se passará aos 50. Não falo sobre ser uma pessoa bem-sucedida ou inteligente, falo no sentido de ser alguém desejável. E nem entro no mérito dos vestidos apertados, é mais sobre andar a cada passo, ter uma admiração súbita e perceber que você quer estar exatamente aonde está.

Algumas pessoas dizem que dariam tudo para voltar aos 30. Bem, eu jamais desejaria isso. Não gostei dos meus 30 anos. Fazer Little Earthquakes foi ótimo, mas naquela época não mantinha minha calma nem sabia como gargalhar. Acho que me tornar uma mãe foi o maior presente que aconteceu para mim. Esta foi uma das mudanças mais críticas da minha vida, no sentido de me trazer para onde estou hoje. Mas enquanto os anos passam, você precisa sempre estar de ouvidos abertos, escutando sua própria alma, para continuar crescendo.

Fonte: Undented

Nenhum comentário: