quarta-feira, 28 de agosto de 2013

[Tradução] Matéria sobre The Light Princess para o site Standard UK

Saiu hoje uma matéria sobre o The Light Princess, musical de Tori com estreia para o final de setembro. Nela, vemos a cantora e compositora dando vários detalhes do processo criativo para a peça, além de falar sobre qual se tornou a motivação real para sua nova empreitada; tudo isso nos motivou a fazer a tradução. Para ler a versão original, em inglês, segue o LINK; já a versão em português, logo a seguir.

TORI AMOS FALA SOBRE SEU NOVO MUSICAL, THE LIGHT PRINCESS, ESTREANDO EM BREVE NO NATIONAL THEATRE

O musical de Tori Amos “The Light Princess” esteve em produção nos últimos cinco anos e agora está bem próximo de ser lançado no National Theatre. Espere por canções originais, fantoches mágicos e uma mulher flutuante, sobre o palco.


“Nick Hytner me disse, ‘Escrever um musical é um pesadelo glorioso’,” conta Tori Amos com franqueza. “Ele disse, ‘você terá a jornada de sua vida. Mas precisa estar disposta a desmontar toda a estrutura para rescrevê-la novamente’”.
Está claro que foi uma jornada. O musical de Amos, “The Light Princess”, seria inicialmente lançado em 2011, e só agora chega ao palco do National Theatre’s Lyttelton, no final de setembro. As apostas são as melhores: será dirigido por Marianne Elliott, responsável também por War Horse.
É, apesar do suporte estelar, um projeto bastante pessoa para Amos, 49 (sic), que escreveu a música e letras em parceria com o dramaturgo Samuel Adamson (Pillars of the Community, Breakfast at Tiffany’s). Não só The Light Princess tem a ocupado pelos últimos cinco anos, mas seu tópico principal — o despertar sexual feminino — é bem importante para ela. É por isso que Amos, nascida na Carolina do Norte e hoje dividida entre a Flórida, Irlanda e Cornualha, passou seu verão numa sala de ensaios em Southwark.
Livremente adaptado a partir do conto de fadas de George MacDonald, escrito no Século XIX, The Light Princess conta a história de Althea, uma princesa que vive sob uma maldição que a sublima em angústia, sendo assim obrigada a viver presa para não sair flutuando sem rumo. Só quando aprende a arte de chorar, torna-se mais assentada e pode assim se casa com o príncipe que por ela se apaixonou.
É um material rico psicologicamente para Amos, que já documentou o meio religioso em que foi criada, experiências sexuais, abortos e gravidez em canções que rompem tabus, como Cornflake Girl, Professional Widow e God. Tendo sobrevivido a um episódio de violência sexual aos 21 anos, ela co-fundou a Rede Nacional para o Estupro, Abuso e Incesto (RAINN), uma organização anti-agressão sexual com centros locais por todo os EUA.
Mesmo baseada nos elementos do conto de fadas de MacDonald, ela insiste, “nunca foi nosso desejo ambientar o musical antes dos direitos das mulheres terem surgido. Queríamos um prumo adolescente que tivesse ressonância em jovens do século XXI, bem como em seus pais”.
Amos mantém total sigilo sobre como Althea irá de fato flutuar no palco, mas, assim como em War House, a apresentação será composta também de animação, fantoches e efeitos aéreos. Haverá também uma orquestra ao vivo, mas a produção não será cheia de números showstopping. Canção, diálogo e movimento são integrados. “Sam e eu escolhemos por manter uma linearidade dramática também nas canções, fazendo com que não paremos a peça por conta de momentos muito emocionais.”
Amos vendeu mais de 12 milhões de álbuns e foi indicada ao Grammy oito vezes. Ela primeiro surgiu no cenário musical em 1992 com seu disco solo, Little Earthquakes, um set de canções baseadas no piano. Confirmou o status de uma das mais imaginativas artistas femininas do pop com seus lançamentos subsequentes, incluindo Under the Pink, Boys for Pele, e uma coleção de covers, Strange Little Girls. Mais recentemente gravou dois discos em parceria com o selo clássico Deutsche Grammophon; no entanto, ela nunca havia escrito um musical antes.
Inicialmente, Amos abordou os promoters da Broadway com o conceito de The Light Princess; não demorou para perceber que precisava de uma produtor criativo, “não somente um de olho nas cifras de dólar”. Ela foi então aconselhada a encontrar Hytner, o diretor artístico do National Theatre, “porque eles estavam procurando por músicos contemporâneos para colaborações”.
Ainda que ele tenha enumerado as dificuldades de escrever um grande musical (“existe um cemitério cheio deles”), Amos sabia ter encontrado o produtor certo. “Eu gosto de me arriscar”, diz ela com olhar vislumbrado.
O National organizou seu encontro com Adamson (que já havia adaptado o filme “Tudo Sobre Minha Mãe” para o Old Vic [teatro britânico]) e uma parceria criativa nasceu. Hoje ela o chama de seu “marido no papel”. Originalmente só ela escrevia as canções, mas agora eles as escrevem juntos. “Somos implacáveis um com o outro. Eu olharei para ele e direi, ‘se é melhor em diálogo, então assuma’.”
A relação foi testada quando Hytner adiou a estreia. “Foi a melhor decisão,” Amos diz hoje. “Nick disse a mim, ‘esse musical tem de ser melhor do que bom. Não estou dizendo para simplesmente empatetá-lo, ou universalizá-lo com o objetivo de fazermos mais dinheiro dele. Estou lhe recomendando o contrário. Vá mais fundo, seja corajosa. Você tem a chance de dizer coisas a adolescentes e adultos que ressoarão neles e nelas quando saírem do teatro, coisas sobre as quais poderiam estar discutindo naquela semana’.”
Ela e Adamson começaram a reescrever. Dois anos depois, ficou pronto. Elliott trouxe consigo uma super equipe, incluindo a designer Rae Smith (que ganhou o Evening Standard Best Design Award por War Horse), o supervisor musical Martin Lowe e o coreógrafo Steven Hoggett (Black Watch, Once).
É como uma masterclass em teatro todo dia, Amos fala com entusiasmo.
“Marianne está em sua melhor forma neste momento. É seu primeiro musical, e o rigor que ela traz para toda sua equipe criativa é algo que nunca vi igual em minha vida. Ela nos incentiva a criar em conjunto, e então quando trazemos o resultado supervisiona tudo”.
Amos deleita-se em ser tão presente. “Às vezes você precisa compor no momento, porque a equipe visual necessita de mais 20 compassos com a adição de uma nova cena. E eu não creio no uso de fillers. Design sônico é afrodisíaco quando você ganha o traquejo”.
O elenco de The Light Princess é uma combinação de performers de musicais (Clive Rowe, Hal Fowler) e atores de fora deste meio. A ruiva Rosalie Craig (que se assemelha à jovem Amos) fará Althea. “Ela tem treinado por 18 meses para encarnar o papel,” diz Amos. Nick Hendrix (que atuou pela última vez na peça The Winslow Boy) é o príncipe guerreiro Digby.
Amos, que chama suas canções de “garotas”, nunca compôs antes para vozes masculinas, e tem amado escrever para a extraordinária extensão vocal de Rowe (ele será o pai da light princess). “São quase três oitavas, o que é muito raros dos dois lados do Atlântico.”
Mesmo quando os atores fazem uma pausa para o almoço, ela volta ao salão de ensaios para que possa ouvi a equipe criativa. Ela e Craig brincam de que gostariam de permanecer lá em sacos de dormir. Muitas cantoras pop ficariam a ver navios num salão de ensaio do National Theatre, mas Amos credita sua tenacidade à insistência de seus pais em oferecer uma educação musical completa para a filha. Treinada em música clássica, ela participava do Peabody Conservatory of Music até os 11 anos.
“Minha mãe era a esposa de um pároco nos anos 60, antes do movimento feminista, então ela trouxe muitas de suas ideias para mim. Quando meu pai ia trabalhar, lá vinha ela com uma coleção de discos, tocando para mim de um tudo: desde Fats Waller e Billie Holiday até trilhas de musicais.”
Em 2011 ela gravou Night of Hunters, com tributos a Bach, Chopin e Schubert, seguido pelo álbum Gold Dust (2012), no qual a vimos retrabalhando antigas canções com a Metropole Orchestra.
As experiências a abriram para “um sem fim de música clássica sobre a qual ela não se debruçava há anos, ou nunca de fato tinha se aberto. Eu amo Schubert mas não tinha ouvido Winterreise antes. E tudo isso aconteceu durante o processo de rescrita de The Light Princess.”
Esta peça é sobre a angústia — Althea e seu príncipe perderam suas mães, e precisam ganhar independência de seus pais poderosos. Isso a fez questionar seu próprio papel como mãe. “Nós fazemos coisas para nosso filhos; nem sempre as manejamos bem.”
Ela e seu marido, o engenheiro de som inglês Mark Hawley, tem uma filha (“13 com jeito de 32”) e sua irmã tem cinco. Então The Light Princess absorveu bastante dessa adolescência mais crua.
Por várias razões, Amos não inveja a infância moderna. “Pensamos ser mais fácil por causa da maior exposição e das redes sociais; mas você pode se tornar globalmente envergonhado, não somente em sua escola.”
Após o musical, ela começa a gravar um novo álbum pela Universal. “Mas trabalhar com o National Theatre me mudou para sempre. Quando voltar a meu próprio mundo, levarei comigo muito do que aprendi.”

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