domingo, 15 de setembro de 2013

[Tradução] Entrevista para o site do Jornal The Guardian


Saiu hoje no site do The Guardian uma entrevista de Tori, na qual ela fala sobre o musical The Light Princess e, principalmente, alguns aspectos de sua vida pessoal. Dentre eles, sua relação com Tash e seus pais, seu passado em terapia e até a motivação por trás da fatídica foto em que amamenta um porquinho, no encarte do Boys For Pele. Por fim, ela ainda confirma um novo disco para o ano que vem, acompanhado de turnê!
Para ler a original, clique AQUI. A tradução segue logo abaixo.

TORI AMOS: "É MUITO MAIS FÁCIL FALAR SOBRE QUALQUER ASSUNTO NUMA MÚSICA DO QUE NUMA CONVERSA"

A cantora e compositora norteamericana fala sobre lidar com o sofrimento, criar uma filha e escrever seu primeiro musical para o National Theatre.

Você compôs para um novo musical, The Light Princess, no National Theatre. Era para a peça ter sido lançada em 2011. Foi um processo agitado?

Foi ótimo, está de brincadeira? A princesa flutua por todo o palco: isso levou tempo para funcionar. Nick Hytner (diretor do National Theatre) me disse: “Um bom musical é a coisa mais difícil de se preparar para um palco.” Nick nos aconselhou a escrever algo poderoso, que não se tornasse banal ou para um público generalista, dos 5 aos 95 anos.

De onde surgiu a trama? (Envolve um príncipe e uma princesa de reinos inimigos, abatidos pelo sofrimento, que se apaixonam)

Creio que todo mundo compreenda o sofrimento, a jornada que isso nos leva a tomar, seja sobre a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento, uma decepção. Algumas pessoas não lidam com isso, o poder que o sofrimento tem. Já outras sim. Algumas sentem o peso dele e acaba o deixando ditar suas próprias decisões. Tive de me abrir ao sofrimento em diferentes contextos.

Você cresceu em Maryland, onde seu pai era um pastor: soa muito religioso.

Havia uma certa maneira de se comportar nos anos 60, sendo parte da família de um pastor. Tive uma criação muito rigorosa com meu pai e era muito próxima à minha mãe, a qual sempre foi extremamente amável. Sou abençoada por ainda ter meus dois pais em minha vida.

Seus 13 álbuns venderam 12 milhões de cópias e você é uma musicista indicada oito vezes ao Grammy. Música sempre foi sua paixão?

Eu frequentei o Conservatório Peabody como estudante de música clássica quando tinha cinco anos, mas mais tarde entrei em conflito com a filosofia conservadora de lá. Meu pai então disse que se eu quisesse uma carreira na música contemporânea, deveria treinar. Um dia, aos 13 anos, ele disse para me vestir como se fosse mais velha, então vesti calças e saltos e fomos os dois bater na porta de bares em Georgetown, Washington. Mr Henry’s, um bar gay, me deu a primeira oportunidade. Meu pai recebeu críticas de alguns paroquianos, mas disse a eles: “Não consigo imaginar um lugar mais seguro para minha filha de 13 anos do que um bar gay.”

Você já cantou sobre ser estuprada, sobre casamento e maternidade. Por que tão confessional?

Porque era como me sentia naquele momento. Foi verdadeiro e cru. Para mim, é muito mais fácil falar sobre todo e qualquer assunto numa música do que numa conversa. Nunca fui diagnosticada com depressão, mas já passei por fases muito difíceis. Fiz anos de terapia, graças a Deus! Foi absolutamente vital. Precisava e fui beneficiada com isso. Percebi que o acompanhamento não era mais necessário em 2005, daí parei.

Por que você foi fotografada dando de mamar a um leitão em seu álbum, Boys For Pele?

A mensagem era que deveria ser sempre aceitável dar amor a todas as coisas. Muita da minha criação foi galgada na hipocrisia e julgamento da igreja Cristã. “Ame seu semelhante”, compaixão - tudo do que Jesus havia falado não me parecia presente. Aquela foto não tinha teor sexual, tratava-se de uma afirmação do que deveria ser o Cristianismo: que tudo o que normalmente é julgado deveria ser acolhido.

Você casou com o engenheiro de som inglês Mark Hawley, em 1998, e tem uma filha de 13 anos, Natashya (Tash). A maternidade lhe mudou?

É a experiência mais desafiadora que já tive na vida. Não sinto que fui uma mãe tão boa quanto foi a minha. Ela ficava em casa, eu trabalho em horário integral, mas Tash diz: “se você estivesse por perto o tempo todo seria irritante”. Quero que ela sinta em mim o amor incondicional que eu senti em minha mãe. Eu queria até mais filhos, mas como abortei algumas vezes antes de Tash, depois de tê-la decidimos parar por aí.

O que ela quer fazer?

Ela está na escola de teatro Sylvia Young. Não sei o que ela fará. Ela podia se tornar primeira ministra ou presidente, por conta do status de seu passaporte. Nossa dinâmica não é tradicional. Desde seu primeiro ano de vida, ela estava em turnê comigo, e tem muito amigos adultos; saía com a equipe, o que acabou por se tornar uma educação. Ela começou a aterrissar aos 11, quando me disse: “estive viajando pelo mundo e estou tentando entender o que devo fazer para me tornar independente”.

Você tem casas na Irlanda, Flórida e Cornualha...

A casa da Cornualha é do Mark. Ali é o lar da alma dele, onde teve várias memórias de seu pai, que faleceu há muitos anos atrás. Eu tenho um lugar na Flórida. Sou muito reclusa, assim como ele. Sou casada com Greta Garbo. Trabalhamos juntos desde 1994, e até hoje continuamos assim. Ele e Tash fazem brincadeira de tudo, são ultrajantes. Acabam sempre me fazendo rir.

O amor é importante?

O romance é importante para mim e manter um romance com seu marido dá um certo trabalho. A chave está em garantir que seu companheiro sinta sua falta. Isso significa que você precisa se retirar, também.

Como foi fazer 50 anos?

O elenco do musical cantou Parabéns. O relógio está andando para todos. Pode não parecer se você é 20 anos mais novo, ainda que conheça pessoas em seus 20 anos que sentem suas vidas voando. Minha própria mortalidade me é tangível. Aos 50, minhas preocupações são sobre a qualidade de meu trabalho, ser uma boa ouvinte para Tash, além de dar apoio às pessoas com quem trabalho.

Envelhecer para os homens é mais fácil?

Homens na música e no cinema chegam aos 50, ganham uma pança e uma aparência tão marcada quando a dos homens da Marlboro, e continuam atraindo mulheres mais novas. Mulheres ganham linhas em seus rostos e marcas também - a mulher Marlboro - o que é legal, mas não um afrodisíaco. Não falarei sobre a Miley Cyrus no VMA, mas direi que existem mulheres que se sexualizaram e fizeram disso arte; mesmo sendo criticadas, continuava sendo algo poderoso.

Mas se você se sexualiza e não faz disso arte, está apenas se sexualizando. Todos ficam envergonhados. Não é lá muito bom, sabe? Você está apenas cansando sua imagem.

Seu próximo disco será um retorno à música contemporânea?

Sim, e eu sairei em turnê no ano que vem. Confie em mim, quando você escreve um musical, além de criar uma filha de 13 anos, acaba tendo muita coisa sobre o que escrever. Eu amaria compor para um balé. Algumas de minhas composições musicais favoritas, especialmente “Romeu e Julieta” de Prokofiev, foram escritas para balé. Eu mesma não consigo dançar, mas tudo bem.

xxx

Nenhum comentário: