domingo, 17 de agosto de 2014

[Especial] Motivos para dizer: Tori Amos é foda!

Nota: o motivo para estar mais ausente do blog foi que na última semana, estive assistindo a shows de Tori nos EUA. Esse texto é resultado dessa experiência; por Hernando Neto.


MOTIVOS PARA DIZER: TORI AMOS É FODA!

Tori Amos é bastante peculiar. Seja em sua abordagem nos shows, seu cuidado com os fãs ou na maneira que escolhe tratar de temas que lhe afligem e/ou atormentam o mundo, é inegável o quanto que se destaca de muitos outros artistas, mesmo que voltada para seu universo e de seu grupo de "seguidores". Seguidores porque de maneira bem literal, seus fãs costumam viajar a várias cidades para ver seus shows, como fiz ao correr para a Filadélfia sem a mínima noção se daria certo, somente para ter mais uma experiência ao lado dela. Sim, ao lado dela, visto que mesmo num teatro imenso, a forma como a pianista se aproxima de você é íntima... Talvez seja esse seu maior trunfo.
Depois de uma jornada mais longa e saborosa de seu trabalho, decidi elencar alguns motivos para explicar meu amor por ela. Explicar de forma sucinta o porquê dessa compositora ruiva, que se mostra nua à sua frente, ser tão maravilhosa.

O diálogo e narrativa de cada show - Tori costuma criar seus setlists pensando num tema diferente para cada noite. Num dos shows que assisti, lá pela sétima música já era claro para mim que a mote do espetáculo era a morte; em outro, foram personagens femininas de suas canções, em situações opressivas, que caminhavam para a libertação; ainda, houve o dia de homenagear a cidade de NY, num set repleto de músicas que referenciam a cidade. Enfim, ela não cria algo estanque e mantém a repetição em sua turnê até o fim. E através dessas mudanças, muitas delas ditadas pelos pedidos dos fãs daquela localidade, a artista conversa com você. Ela lhe põe numa mesa, num sofá, num parque vazio ou cheio de gente e animais, e lhe pergunta o que anda passando por sua cabeça. Ela tira palavras de sua boca e as repete num diálogo que lhe renova por dentro... Naturalmente, é uma sensação que costuma surgir na relação ídolo-fã, mas talvez pela natureza visceral de seus conteúdos, as músicas de Amos levam ao choro, gritos, guinchos e em última instância, agradecimentos inflamados. É quase perturbador!

A variedade dos setlists - como disse anteriormente, a escolha de diferentes narrativas para cada noite faz com que Tori não repita nenhum setlist entre uma data e outra, permitindo ao público experimentar diversas músicas num curto período de tempo. Por saber como sua fanbase a acompanha para muitas apresentações, e também para não tornar o processo tedioso, Tori gosta de variar, e só me tomando como exemplo, essa prática fez com que em quatro shows (um em 2011, três em 2014) eu ouvisse nada menos que 60 músicas de seu catálogo! Isso tirando os covers, que entre trechos e versões completas passaram dos 10! A pergunta que fica é: que outro artista você consegue pensar agora que faz uma coisa desse tipo?



O carinho com seus fãs - uma das práticas mais antigas da artista é a do Meet n' Greet. Nele, Tori tira de duas a três horas de seu dia para, antes do show, receber fãs, ouvir suas histórias, autografar itens, tirar fotos e confraternizar com o público, tudo gratuitamente. Cada pessoa costuma ser atendida individualmente, e passa em média 3 minutos com ela; durante esse período, Tori parece ter as palavras certas para lhe dizer, e isso faz com que veja nela algo não muito comum por aí: a empatia. Ela se compadece de seus traumas, comemora suas vitórias, lhe dá um abraço de consolo e até dança com você para lhe animar (sim, ela dançou comigo! Hahaha). Enfim, ela se faz presente e demonstra gratidão por aqueles que depois de todos esses anos, a ouviram e continuam ouvindo. É emocionante.

Ela é apaixonada - Tori Amos vai da loucura à consciência plena durante um show, mas jamais perde o desejo pelo seu ofício. Quando canta e toca seu piano, a entrega dela à música é tão patente que quase pode ser tocada no ar! Tori se apresenta com paixão, sem perder um olhar, um movimento, uma chance de demonstrar com o corpo o que transborda de seu espírito. Ela se dá às Musas (como costuma falar) de forma irrestrita, indo além do bem e do mal para chegar a essência de sua mensagem. E isso é inspirador, na medida que nos serve de conselho: seja apaixonado também. Construa sua vida com vontade, tire os contornos de sua perfeição, aceite, rejeite, destrua e refaça. Durante todos esses anos, acho que essa é a maior lição que podemos tirar dela como artista: que é preciso paixão, até na hora de perder.

Ainda que pudesse passar dias escrevendo a respeito de cada detalhe que me faz amá-la cada dia mais, termino aqui meu texto na esperança de ter feito jus à força da natureza que essa mulher conjura. Tori Amos pode não ser super famosa e reconhecida, mas isso jamais a impediu de ser quem é: um catalisador das mais diversas emoções, levando-as à enésima potência. Por isso ela é tão especial; por isso ela é foda.



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