sábado, 28 de setembro de 2013

Overview das resenhas para a preview de "The Light Princess"


“The Light Princess”, o primeiro musical de Tori, em parceria com o dramaturgo Samuel Adamson, finalmente teve sua estreia. Na verdade, o espetáculo já vem sendo apresentado numa espécie de fase-teste, para definir os ajustes finais, com datas que irão até 08 de outubro. Dia 09 será dedicado à imprensa especializada, e a partir de 10/10 finalmente a peça será lançada para o público em geral. Como pelo menos quatro blogs já trataram do que viram no palco, vamos fazer aqui um apanhado geral com as informações mais relevantes até agora veiculadas.

Ao que parece, o musical perde um pouco da pretensa infantilidade de contos-de-fada, para assumir uma atmosfera um pouco mais terrígena e em parte obscura, semelhante às folk tales dos Irmãos Grimm. No entanto, engana-se quem pensa que a história não tenha ressonância sobre o público mais jovem, uma vez que seus dois personagens principais, a princesa Althea (Rosalie Craig) e o príncipe Digby (Nick Hendrix), são adolescentes lidando com um pesar vindo desde sua mais tenra infância: a perda de suas mães.

Em termos de narrativa, a ação se passa em dois reinos inimigos, Lagobel e Sealand, e seu primeiro enfoque está na forma como ambos herdeiros lidaram com a morte materna. Enquanto Althea se sublimou em seu sofrimento, não conseguindo chorar e se tornando leve a ponto de flutuar, Digby tornou-se duro e pesado como uma rocha, não podendo esboçar sequer um sorriso. A tirania e despreparo de seus pais fazem com que não consigam apaziguar a dor de seus filhos, de modo que o pai de Althea, interpretado por Clive Rowe, prefere deixar a filha trancada ao invés de encarar sua condição. As coisas passam a mudar quando princesa e príncipe se encontram numa área natural e intocada, localizada entre os dois reinos: eles se apaixonam, e ao que parece, terão de enfrentar o mau julgamento de seus pais monarcas e do povo.

Mesmo que sua história denote um sabor tradicional, “The Light Princess” torna-se moderna por tratar das agruras da adolescência, advindas não só da perda de entes queridos, mas da pressão sofrida para crescer e assumir responsabilidades perante o futuro, além de tópicos feministas (bem típicos de Amos). A leveza de Althea pode suscitar, inclusive, uma expressão de anorexia, algo que sem dúvida tem ressonância sobre a juventude. A atriz que a interpreta deu uma ótima entrevista sobre o espetáculo (leia aqui), na qual conta mais detalhes sobre essas correlações.

Em termos de ambientação, os mais diversos recursos foram utilizados. Além das marionetes representando os animais amigos dos herdeiros, o grande destaque cenográfico recai sobre o flutuar de Althea, feito em alguns momentos com o auxílio de fios metálicos, e em outros pelo amparo do elenco de apoio. Rosalie Craig afirmou que os recursos são uma novidade, e que a personagem a obrigou a cantar em posições pouco convencionais. A voz da atriz, inclusive, foi bastante elogiada por sua pureza e sensualidade, sobrando espaço para louros também a Clive Rowe (pai da princesa), a quem se diz ser atribuído um momento show-stopper, cheio de força e dramaticidade. Assim com os outros atores, Nick Hendrix é ovacionado por seu canto, cheio de doçura e romantismo. O blog Boycotting Trends faz até uma comparação divertida entre a voz do ator e seus atributos físicos, ao dizer que ele é “as sweet of voice as he’s buff of bicep”.

Musicalmente falando, Tori procurou não se repetir, mesmo trazendo muito de sua personalidade nas melodias e nos versos das canções. Um dos blogs disse ter ouvido um pouco de “Winter’s Carol” em certo momento do espetáculo, lembrando que, mesmo lançada no Midwinter Graces, está é uma canção originária da peça. Definindo as composições como robustas, rapsódicas e lúdicas, o blog Boycotting Trends aponta que o material composto por Amos e Adamson conversa com o Night of Hunters, mantendo no entanto sua própria identidade. Por fim, fala-se ainda que a versatilidade de Tori se mostra durante toda a peça, havendo espaço para um pouco de soul, música gospel e até pop/rock, tudo com uma organicidade que dá integridade ao material.

Por fim, todas as resenhas recomendam a ida ao Lyttelton Theatre, não só aos fãs, mas a um público interessado em ver inventividade no mundo dos musicais. A quem interessar, as datas do espetáculo estão AQUI.

Os blogs consultados para esse texto foram: Boycotting Trends, There Ought To be Clowns, Monkey Matters e The Play's The Thing.

ps: após a primeira noite de espetáculo, Tori fez algo raríssimo: usou o twitter, dessa vez para agradecer a todos envolvidos nessa primeira apresentação.

domingo, 15 de setembro de 2013

[Tradução] Entrevista para o site do Jornal The Guardian


Saiu hoje no site do The Guardian uma entrevista de Tori, na qual ela fala sobre o musical The Light Princess e, principalmente, alguns aspectos de sua vida pessoal. Dentre eles, sua relação com Tash e seus pais, seu passado em terapia e até a motivação por trás da fatídica foto em que amamenta um porquinho, no encarte do Boys For Pele. Por fim, ela ainda confirma um novo disco para o ano que vem, acompanhado de turnê!
Para ler a original, clique AQUI. A tradução segue logo abaixo.

TORI AMOS: "É MUITO MAIS FÁCIL FALAR SOBRE QUALQUER ASSUNTO NUMA MÚSICA DO QUE NUMA CONVERSA"

A cantora e compositora norteamericana fala sobre lidar com o sofrimento, criar uma filha e escrever seu primeiro musical para o National Theatre.

Você compôs para um novo musical, The Light Princess, no National Theatre. Era para a peça ter sido lançada em 2011. Foi um processo agitado?

Foi ótimo, está de brincadeira? A princesa flutua por todo o palco: isso levou tempo para funcionar. Nick Hytner (diretor do National Theatre) me disse: “Um bom musical é a coisa mais difícil de se preparar para um palco.” Nick nos aconselhou a escrever algo poderoso, que não se tornasse banal ou para um público generalista, dos 5 aos 95 anos.

De onde surgiu a trama? (Envolve um príncipe e uma princesa de reinos inimigos, abatidos pelo sofrimento, que se apaixonam)

Creio que todo mundo compreenda o sofrimento, a jornada que isso nos leva a tomar, seja sobre a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento, uma decepção. Algumas pessoas não lidam com isso, o poder que o sofrimento tem. Já outras sim. Algumas sentem o peso dele e acaba o deixando ditar suas próprias decisões. Tive de me abrir ao sofrimento em diferentes contextos.

Você cresceu em Maryland, onde seu pai era um pastor: soa muito religioso.

Havia uma certa maneira de se comportar nos anos 60, sendo parte da família de um pastor. Tive uma criação muito rigorosa com meu pai e era muito próxima à minha mãe, a qual sempre foi extremamente amável. Sou abençoada por ainda ter meus dois pais em minha vida.

Seus 13 álbuns venderam 12 milhões de cópias e você é uma musicista indicada oito vezes ao Grammy. Música sempre foi sua paixão?

Eu frequentei o Conservatório Peabody como estudante de música clássica quando tinha cinco anos, mas mais tarde entrei em conflito com a filosofia conservadora de lá. Meu pai então disse que se eu quisesse uma carreira na música contemporânea, deveria treinar. Um dia, aos 13 anos, ele disse para me vestir como se fosse mais velha, então vesti calças e saltos e fomos os dois bater na porta de bares em Georgetown, Washington. Mr Henry’s, um bar gay, me deu a primeira oportunidade. Meu pai recebeu críticas de alguns paroquianos, mas disse a eles: “Não consigo imaginar um lugar mais seguro para minha filha de 13 anos do que um bar gay.”

Você já cantou sobre ser estuprada, sobre casamento e maternidade. Por que tão confessional?

Porque era como me sentia naquele momento. Foi verdadeiro e cru. Para mim, é muito mais fácil falar sobre todo e qualquer assunto numa música do que numa conversa. Nunca fui diagnosticada com depressão, mas já passei por fases muito difíceis. Fiz anos de terapia, graças a Deus! Foi absolutamente vital. Precisava e fui beneficiada com isso. Percebi que o acompanhamento não era mais necessário em 2005, daí parei.

Por que você foi fotografada dando de mamar a um leitão em seu álbum, Boys For Pele?

A mensagem era que deveria ser sempre aceitável dar amor a todas as coisas. Muita da minha criação foi galgada na hipocrisia e julgamento da igreja Cristã. “Ame seu semelhante”, compaixão - tudo do que Jesus havia falado não me parecia presente. Aquela foto não tinha teor sexual, tratava-se de uma afirmação do que deveria ser o Cristianismo: que tudo o que normalmente é julgado deveria ser acolhido.

Você casou com o engenheiro de som inglês Mark Hawley, em 1998, e tem uma filha de 13 anos, Natashya (Tash). A maternidade lhe mudou?

É a experiência mais desafiadora que já tive na vida. Não sinto que fui uma mãe tão boa quanto foi a minha. Ela ficava em casa, eu trabalho em horário integral, mas Tash diz: “se você estivesse por perto o tempo todo seria irritante”. Quero que ela sinta em mim o amor incondicional que eu senti em minha mãe. Eu queria até mais filhos, mas como abortei algumas vezes antes de Tash, depois de tê-la decidimos parar por aí.

O que ela quer fazer?

Ela está na escola de teatro Sylvia Young. Não sei o que ela fará. Ela podia se tornar primeira ministra ou presidente, por conta do status de seu passaporte. Nossa dinâmica não é tradicional. Desde seu primeiro ano de vida, ela estava em turnê comigo, e tem muito amigos adultos; saía com a equipe, o que acabou por se tornar uma educação. Ela começou a aterrissar aos 11, quando me disse: “estive viajando pelo mundo e estou tentando entender o que devo fazer para me tornar independente”.

Você tem casas na Irlanda, Flórida e Cornualha...

A casa da Cornualha é do Mark. Ali é o lar da alma dele, onde teve várias memórias de seu pai, que faleceu há muitos anos atrás. Eu tenho um lugar na Flórida. Sou muito reclusa, assim como ele. Sou casada com Greta Garbo. Trabalhamos juntos desde 1994, e até hoje continuamos assim. Ele e Tash fazem brincadeira de tudo, são ultrajantes. Acabam sempre me fazendo rir.

O amor é importante?

O romance é importante para mim e manter um romance com seu marido dá um certo trabalho. A chave está em garantir que seu companheiro sinta sua falta. Isso significa que você precisa se retirar, também.

Como foi fazer 50 anos?

O elenco do musical cantou Parabéns. O relógio está andando para todos. Pode não parecer se você é 20 anos mais novo, ainda que conheça pessoas em seus 20 anos que sentem suas vidas voando. Minha própria mortalidade me é tangível. Aos 50, minhas preocupações são sobre a qualidade de meu trabalho, ser uma boa ouvinte para Tash, além de dar apoio às pessoas com quem trabalho.

Envelhecer para os homens é mais fácil?

Homens na música e no cinema chegam aos 50, ganham uma pança e uma aparência tão marcada quando a dos homens da Marlboro, e continuam atraindo mulheres mais novas. Mulheres ganham linhas em seus rostos e marcas também - a mulher Marlboro - o que é legal, mas não um afrodisíaco. Não falarei sobre a Miley Cyrus no VMA, mas direi que existem mulheres que se sexualizaram e fizeram disso arte; mesmo sendo criticadas, continuava sendo algo poderoso.

Mas se você se sexualiza e não faz disso arte, está apenas se sexualizando. Todos ficam envergonhados. Não é lá muito bom, sabe? Você está apenas cansando sua imagem.

Seu próximo disco será um retorno à música contemporânea?

Sim, e eu sairei em turnê no ano que vem. Confie em mim, quando você escreve um musical, além de criar uma filha de 13 anos, acaba tendo muita coisa sobre o que escrever. Eu amaria compor para um balé. Algumas de minhas composições musicais favoritas, especialmente “Romeu e Julieta” de Prokofiev, foram escritas para balé. Eu mesma não consigo dançar, mas tudo bem.

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